Foto: Thiago Lima / Voz das Comunidades
Quando a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, em março deste ano, muitos moradores de favela se encontravam sem saber o que fazer, como a maioria dos brasileiros. E o isolamento social acabou trazendo diversos problemas de saúde para muitas pessoas, como ansiedade, depressão e pânico, por exemplo. Tendo em vista esta preocupação com os moradores, o projeto Literatura Comunica! lançou o Diários de Emergência Covid-19, que reúne histórias do confinamento.
O intuito com o Diários de Emergência Covid-19 é mostrar como diversas pessoas lidaram com o confinamento, tendo em vista diferentes lugares e realidades com que cada um se encontrou durante o período de quarentena provocada pela doença. A iniciativa aqui no Brasil, que também ocorre no exterior, conta com moradores do Complexo da Maré como participantes.
Teste 3
Carlos Gonçalves é co-coordenador do Jornal Literatura Comunica, estudante de Engenharia da UERJ e morador do Complexo da Maré. Além da condenação, Carlos também participou dos Diários de Emergência. “Eu enxerguei como uma forma de desabafo social, de tantas coisas erradas que eu enxergava durante a pandemia. Me ajudou a preservar a sanidade mental”. Por coordenar o Diários de Emergência Covid-19, Carlos conseguiu ver como a desigualdade social foi fortemente refletida nas pessoas de comunidade e como trouxe diversos conflitos internos para moradores participantes. Ele acredita que a escrita daquele dia a dia ajudou a contornar as situações.
Moradores relatam dia a dia
Francisco Valdean é fotógrafo, morador da favela da Maré e fez um diário cronometrado e artístico, no qual registrou que todos em sua família tiveram Covid-19 e como foram os atendimentos médicos recebidos.
“Normalmente tenho o hábito de escrever diários, não necessariamente na forma escrita. Quando começou a pandemia e havia a orientação do isolamento, eu passei a registrar até percursos que fazia. Quando veio o convite através da Miriane foi uma forma bacana de começar minimamente a organização desses registros. Em textos, imagens e prints. Por exemplo, no diário tem uma pequena abordagem de um mecanismo que criei com minha filha de 8 anos, que ficou muito triste na época por não poder sair nem ir à escola. Então eu e ela ligamos um cronômetro que seria uma espécie de luz no fim do túnel. Combinei com ela de só desligarmos o tempo do cronômetro quando a pandemia acabasse. O relógio tá ligado até hoje, vez outra verificamos quantas horas já estamos em isolamento”.
O fotógrafo ainda relata que mesmo se preservando o máximo e tomando os devidos cuidados, ou contaminado pelo vírus. “Na Maré o isolamento foi um problema. A Grande parte nada pode fazer. Então essa situação de fazermos aqui em casa a quarentena integralmente me fez ficar isolado sem muitos contatos com a vizinhança”.
Diferentes cotidianos dentro da mesma comunidade
Outra moradora da Maré que participou do diário foi Vanusa Borba. Ela contou como foi o cotidiano de uma dona de casa durante a quarentena e o convívio com família.
“Participar do Diários de Emergência foi uma experiência muito legal e única. Eu não sabia como começar a escrever, pois nunca tinha feito um diário antes, pra mim isso era coisa de adolescente e eu não tinha paciência pra isso. Eu sou mãe, estudante e atualmente trabalho em home office. Hoje, escrever, relatar meus medos, meus dias, minhas angústias virou um hábito que me ajuda a não pirar diante do isolamento. Pra quem está acostumado a trabalhar, estudar, tem uma vida agitada, vendo pessoas, este momento de isolamento tem sido bem delicado. Eu estou me adaptando a ter tempo pra cada coisa e tem sido bem difícil, nesse sentido, escrever tem me ajudado a aliviar um pouco a tensão”.
Idealizadora da iniciativa
O Literatura Comunica! é um projeto de comunicação literária que atua no incentivo à leitura e difusão de obras literárias de escritores oriundos das classes populares. O projeto foi idealizado pela educadora Miriane Peregrino, doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ e mestre e especialista em Literatura Brasileira, que vem coordenando as atividades desde 2013. As atividades foram conciliadas com o situação atual como uma forma de auxiliar as pessoas a lidarem de uma forma melhor com o isolamento social, através dos diários.