Por: Mariana Fontoura Lana Nascimento
Já são mais de 160 dias sem Marielle Franco, sem respostas, punições ou explicações. Os corações dos mais próximos ainda sangram e junto com as incertezas, o medo. Marielle é mais do que uma estatística como os noticiários sensacionalistas insistem em frisar. Mulher, negra, ativista da causa LGBTQ+, socióloga e moradora de favela, ela é também sinônimo de luta e resistência que nos ensina o quão vital é a sororidade que nos legitima diante da luta pelo lugar de fala das mulheres.
E pensando nisso que uma, também mulher, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), escreveu o projeto de lei que prevê ações diante do Dia Marielle Franco – Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra. O projeto prevê uma série de discussões com o objetivo de incentivar a reflexão sobre o assassinato de mulheres negras no Brasil. É com pesar e grande indignação que a premissa de “que a carne negra ainda é a mais barata do mercado” se faz presente nas estatísticas frias e impessoais do feminicídio, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública a taxa de homicídios é maior entre as mulheres negras que entre as não negras com uma diferença de 71%.
Teste 3
E do contrário que muitos dizem isso não é apenas um acaso, é retrato do racismo, intolerância, da misoginia, da homofobia e dos discursos de ódio que se propagam por gerações por aqueles que não merecem nenhum destaque, pelo menos nesse texto, nestas laudas e no correr dos dias.
O ponto central por aqui diz sobre união, orgulho, resistência e coragem. Mulheres que se unem com o objetivo de tomar seu próprio lugar de fala. Não aceitaremos mais nenhuma mulher a menos, não aceitaremos que falem por nós, e nem tão pouco possam nos amedrontar. Iremos sim problematizar, toda e qualquer “piada”, “brincadeira” que possam coagir nossos direitos e ações.
Uma alegria me invade quando vejo na maior festa literária do país, Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), a escritora e pesquisadora na área de Filosofia Política e feminista, Djamila Ribeiro e a também escritora argentina Selva Amada, ocupando seus locais de pertencimento e fala. Djamila desconstrói tudo que a haviam ensinado sobre o que era ser negra, sobre estar condicionada ou fadada a um pacote de ações e comportamentos taxativamente premeditados para uma mulher negra e escreve suas próprias histórias e caminhos, que embora admirável está longe de ser romantizada pois é também um espaço de luta diária, árdua e contínua. Djamila também é inspiração e abrigo para mulheres negras ensinando-as a se amar, se aceitar e principalmente a não serem silenciadas. Modificando o modo de lidar com a sociedade.
O feminismo deve se pautar no fortalecimento e empoderamento geral das mulheres, sem qualquer segregação. Ser feminista não diz apenas sobre o feminismo, engloba todos os temas de maneira variada pensando também no impacto social das imposições políticas, econômicas e culturais.
“Empodere e encoraje outras mulheres com firmeza, leveza e honestidade. Empatia. Lembre-se que autoconhecimento é o segredo para sua entrega. Faça acontecer. Saiba que doçura e firmeza em doses iguais são essenciais nas construções da trajetória. O seu lugar é onde você quiser. Consciência de onde quer chegar e do que precisa ser feito é combustível para as grandes ideias. Conectar mulheres para multiplicar desejos.”
(Mariana Fontoura Lana Nascimento)