Tão desacreditando a gente de propósito, pára pra pensar

Um povo desesperado vai se contentar sempre com a opção menos pior. Não vai lutar por direitos, já que não tem força pra nada. E é exatamente essa a estratégia do jogo do poder: enfraquecer os fracos e fortalecer os fortes.

Não te parece óbvio?

Há quem diga que os roteiristas de House Of Cards foram contratados para escrever a história do Brasil quando a Dilma Roussef começou a disputa pelo segundo mandato. Trata-se de uma guerra essencialmente midiática, onde vence quem manipula melhor os fatos e a maneira como eles chegam ao povo. Oras, não estou aqui acusando nenhuma empresa de comunicação de participar diretamente no jogo. Todo mundo sabe que a mídia vive de audiência e se o povo quer ver escândalo, é o que ele vai ter.

Teste 3

Estamos em 2017 e ainda caímos nesse jogo. Não importa se é o Michel Temer, a Dilma ou o Luciano Huck no poder. Todo mundo vai ser financiado por alguém e quem tem o dinheiro tem o poder.

A queda de Eduardo Cunha e a prisão de Cabral, ao meu ver, são apenas desfechos de alguns spinoffs da grande história que realmente acompanhamos: a disputa pela presidência. Quaisquer personagens fora dessa grande história não têm tantos holofotes apontados para si. Chego até a pensar que a imagem de Michel Temer jantando carne, naquele clima meio mórbido, foi uma baita jogada de marketing onde reafirmam a imagem do vampiro. Deu medo sim, aquele olhar sinistro pra câmera.

Nenhuma manifestação vai surtir efeito. A estratégia “deles”, inclusive, é essa mesmo. O povo vai pra rua, derruba o inimigo público número um, entra um salvador da pátria com a ficha limpa. Foi assim que o Brasil se livrou da dinastia tucana. Foi assim também que o Brasil se livrou da dinastia petista. E vai ser assim que o Brasil vai se livrar da dinastia peemedebista. Tanto faz quem tá lá, o que importa é a gente olhar pra lá e assistir esse mega Big Brother.

Enquanto não nos organizarmos no nível “deles“, nada vai acontecer.

Os veículos independentes são o primeiro passo de alguma mudança efetiva. Quanto mais totalitarista é o governo, menos independência tem a mídia. Em tempos de ditadura isso fica mais latente, mas nesse jogo de cartas do nosso país, o povo não sabe quais são as cartas marcadas.

Outro caminho é o hack no sistema. Não temos, essencialmente, suburbanos na mídia. Aprendemos que o subúrbio é perigoso, lugar de 157, que de lá não sai nada de bom – melhor então ter alguém que estudou nos Estaites pra falar pra nós o que devemos sonhar. Só sonhar, nada de realizar.

Quando chegarmos num nível de organização a ponto de criar nossa própria mídia e nossos próprios personagens, teremos alguma chance nesse jogo. Nosso próprio entretenimento. Nossa história contada por nós. A vida daquela adolescente assassinada dentro da escola vai ser entendida como mais valiosa do que o Caetano estacionando no Leblon. Nesse dia o trabalhador não vai precisar mais se expôr na manifestação e receber o caveirão na porta de casa para oprimir seu direito legítimo de protestar.Sleepless movie streaming

Tô repetindo direto as palavras do Emicida: “Organização faz o tubarão temer as tilápia“.

Precisamos virar o jogo das cartas.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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