Os ambulantes anônimos do Boulevard Olímpico

“Olha o latão geladão!”, “Aqui é seis, lá é dez!”, “Beer aqui!”, “Carregador portátil para selfie só aqui!”. É com essas expressões que os turistas e moradores do Rio são seduzidos pelos ambulantes que cercam o Boulevard Olímpico, um passeio público de 3,5 quilômetros que compreende o Armazém oito, na Rodrigues Alves, até o Museu Histórico Nacional, perto do Aeroporto Santos Dummont. O espaço foi uma das atrações mais quentes da cidade no período dos Jogos, no Centro, e possui seu próprio comércio, com comerciantes cadastrados e registrados pelos patrocinadores dos jogos. Contudo, com os preços de bebidas e cervejas variando entre R$ 8 e R$ 13 reais, os transeuntes preferem dar ouvidos aos ambulantes com o famoso isopor e folgar um pouco mais o bolso.

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Paraibano Zacarias Silva, de 31 anos

Em frente a Travessa do Liceu, rua em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR), o paraibano Zacarias Silva, de 31 anos, desempregado, começou a vender água a dois reais em frente à sua casa. Com o alto movimento de restaurantes e atrações, a procura está sendo intensa, segundo ele. “A gente tem escutado que as coisas estão saindo muito caras nas barracas dos patrocinadores”, disse. “Água a oito reais! Aqui vendo por preço justo, dois reais”, completou Zacarias, que ajudou a construir a Linha 4 do metrô durante seis anos. “Comecei em 2010, com o término da obra, meu contrato acabou e agora estou vivendo do seguro desemprego”, afirmou. “Eu fico feliz de ver que a obra deu certo. As pessoas estão podendo se locomover com mais facilidade para assistir aos jogos”, declarou. “Mas viver no Rio, para nós, está cada vez mais caro”, concluiu. Zacarias não possui licença da prefeitura para vender seu produto, por isso ele fica no mesmo local todos os dias. “Alguns guardas ficam de olho… mas preciso fazer um extra, né?”, finalizou.

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Clelia Castro

Acessórios para entrar no clima brasileiro também ganharam troféu nas vendas. Medalhas, apitos, chapéus, blusas e até moedas fizeram principalmente a criançada parar para olhar. “Aqui só vendo medalha de ouro, que sai a dez reais”, disse o ambulante Rodrigo Ferreira, de 39 anos. “Chego meio dia, saio as quatro, mas sempre driblando a fiscalização. Os guardas não gostam da gente aqui”, completou. “Só trabalho com coisa de época. Mas esses jogos estão dando muito dinheiro, mais do que na Copa”, finalizou ele. As duas amigas de São Paulo, Clelia Castro e Marcia Basile,, ambas de 65 anos, aproveitaram para fazer compras. “Estou amando isso tudo! Já comprei todas as moedas para colecionar”, disse Clelia. “Compramos fitinhas e tudo. Vamos levar para os nossos netos na Itália”, completou.

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Ambulante Rodrigo Ferreira

Próximo a Pira Olímpica, o que não pode faltar é picolé para a moçada. O mineiro de 72 anos, Carlos Alberto Martins, acorda todo dia cinco da manhã para repor o material e trabalhar. “No primeiro dia dos jogos me rebocaram porque minha licença para vender estava cancelada”, declarou. “Fiquei uma semana em casa, não me avisaram nada, tive que correr atrás e fiquei sem trabalhar”, acrescentou. “Uma situação humilhante para quem tenta ter um trabalho honesto”, concluiu. Enquanto Carlos Alberto conversava, crianças, grávidas, casais e famílias vinham saborear o picolé geladinho no calor carioca. “O segredo é que a gente faz o melhor trabalho que pode. Aqui vendo meu sorvete por preço honesto, os outros de lá estão vendendo pelo dobro”, finalizou.
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Mineiro de 72 anos, Carlos Alberto Martins

Segundo a Secretaria de Ordem Pública, para não acontecer de os ambulantes serem rebocados, eles precisam ter uma credencial assim como determina a lei 1.872/92. De acordo com a norma, há um limite de 18.400 (número máximo) ambulantes a serem assentados na cidade. Em relação à fiscalização no período olímpico, a Seop tem coibido o comércio de quem não é cadastrado, no entorno dos estádios assim como também em volta do Boulevard Olímpico, na orla e nas proximidades das casas temáticas dos países. Desde o início dos jogos, foram apreendidos cerca de 20 mil itens como bebidas diversas, alimentos, roupas e acessórios.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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