OPINIÃO – A periferia não vive só de treta!

Foto: Gabrielly Coelho
Foto: Gabrielly Coelho

ARTIGO DE OPINIÃO – No Brasil a justiça nunca foi cega, pois sempre foi preconceituosa, da mesma maneira que acontece com os grandes veículos de comunicação. Como assim? Explico já: os veículos de comunicação vivem de “Ibope” (audiência), certo? E o que dá mais Ibope hoje no Brasil? Festas da elite e tretas na favela.

Porém, assim como a elite não vive só de festas, a periferia não vive só de tretas. Mas não é o que parece, pelo menos para a “grande” mídia. Ainda não ficou claro? Permita-me então dar um exemplo clássico do que eu quis dizer com as colocações acima: no Morro do Papagaio, uma grande favela de Belo Horizonte, onde nasci, cresci e vivo até hoje, fazemos várias ações sociais, esportivas, intervenções artísticas e culturais, ações de estímulos à educação e reflexão, como  acontece diariamente em diversas comunidades espalhadas país afora. Só que a “grande” mídia nunca dá bola pra esse tipo de coisa, que vira e mexe acontece nas quebradas. Por outro lado, qualquer coisa que a elite faz, por menor que seja, a tal “grande” mídia faz com que a parada se torne um mega evento, as lentes das câmeras chegam a trombar. Não que não mereça destaque, mas que o espaço seja dividido entre favelas e elites, mostrando o que há de melhor em cada uma delas.

Agora quando o assunto é treta a coisa muda de figura e os papéis são invertidos. Se na elite alguém se envolve em um escândalo, pode até sair na mídia, mas, de certa forma, é abafado ou maquiado, com o objetivo de diminuir a gravidade do problema; Já do outro lado,  na Favela, se alguém soltar fogos de artifício pro alto, já vem aquele bando de repórteres com seus coletes a prova de bala (estilo tropa de elite) falando um tanto de besteiras sem saber o que está  pegando de fato, e sem ao menos ouvir o que os moradores têm a dizer. Criminalizam na alta o lugar onde a gente mora.

Teste 3

Dias atrás fizemos mais uma intervenção artística aqui no Morro, onde pintamos mais uma escada de um dos acessos mais usados por crianças, idosos e demais moradores.  Além de deixarmos a favela mais colorida, a ação envolve a revitalização de espaços antes ociosos e conta com o apoio e participação dos moradores, e também de gente de todos os cantos de BH . Estamos já na 5° edição do FAVELA BELA ESCADAS, um projeto que tem como idealizador o Pelé, nosso artista plástico mais conhecido regionalmente e do qual eu faço parte da organização e, até ontem, ninguém da mídia elitizada veio aqui dar uma moral pra nós.
Mas espere acontecer algo ruim (o que não é privilégio só das favelas) logo vêm eles como urubus na carniça. Por isso mesmo, devemos ter certo na mente que  muito tem que ser mudado, principalmente o olhar mascarado da “grande” mídia elitizada, manipuladora e preconceituosa, que vive da desgraça do pobre e da graça do rico.

Esta coluna é de responsabilidade de seus autores e nenhuma opinião se refere à deste jornal.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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