Minha relação com o Alemão deu início no segundo semestre de 2013, quando concluinte do curso de Pedagogia, tive a oportunidade de fazer a residência pedagógica na Central Única das Favelas (CUFA). Através de uma mensagem inbox ao perfil da Gisele Gomes a Nega Gizza, cheguei até a pedagoga Luciana Ramos que me recebeu de braços abertos e assim, foi possível minha entrada na Instituição. Dois anos e meio se passaram e fui selecionado onde atuei como Conselheiro do programa Caminho Melhor Jovem (CMJ) da Secretaria do Estado de Esporte Lazer e Juventude (SEELJ) quando o Marco Antônio Cabral – um querido! – estava Secretário.
Esse programa foi financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Trabalhávamos com a inclusão social através de ofertas como cursos na Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC) para qualificação profissional etc., e até mesmo bolsas de estudo em Universidades privadas gerando oportunidades para jovens de 15 a 29 anos, moradores (as) de Territórios de Favela. Não sabia em qual território ficaria e em minha meditação de todo santo dia, cravei no campo quântico pedindo ao universo que ficasse no Alemão. No dia seguinte recebi um telefonema onde fui comunicado que o Alemão, era o meu lugar. Agradeci tanto pois provei e vi que, o universo mais uma vez, havia conspirado a meu favor. No meu primeiro dia de trabalho ao entrar no teleférico, chorei, pois, naquele momento um sonho para mim, tornara-se realidade. Ao olhar para as nuvens, de forma matrix veio aquela voz dentro de mim que dizia “o Alemão ser uma benção: complexo somos nós”. Uau!
A verdade é que nada é por acaso mas, existe um propósito para todas as coisas. Acredito que nada está solto, tudo está interligado de forma sincrônica. Quando aterrissei na estação do Alemão, conheci minha equipe de trabalho. O programa funcionava na própria estação e em mais três locais diferentes sendo um deles, a redação do Voz das Comunidades e foi assim meu primeiro contato com o jornal.
Teste 3
Formado por 15 comunidades que se localizam na Zona Norte do Rio de Janeiro, temos o Morro do Alemão batizado também como Complexo fazendo menção honrosa ao apelido de um polonês que foi um antigo dono de terras no local. Mas por que complexo? No sentido real da palavra, temos por complexo o que contém muitos, diversos elementos ou partes; um conjunto de coisas, circunstâncias ou atos conectados e relacionados entre si, podendo ser considerado sob aspectos excêntricos, ou seja, diferentes. Entende-se por complexo aquilo – ou aquele quem sabe – que não é simples ao se apresentar de forma paradoxal, ou seja, complicada, confusa e de difícil entendimento. Acredito ser um desafio, lidar com uma pessoa digamos que complicada, quero dizer, complexa! Mas pensando bem, existem pessoas assim, ou nós é que não os acompanhamos por estarmos então, em outra complexidade dos fatos? Será o Alemão um local complicado de se viver ou tudo é tão simples sendo nós quem complicamos e, dificultando quem sabe as relações? E a palavra violência caiu na boca do povo, pois não se fala mais em outra coisa, a não ser a tal da violência que em sua etimologia, deriva do Latim “violentia”, tendo como significado “veemência e impetuosidade”. Sua origem se relaciona com o termo “violação” (violare) onde a pessoa impetuosa, age de forma impulsiva, não refletindo sobre seus atos antes de executá-los. A palavra ímpeto significa também o sentimento intenso de uma emoção, em estado de êxtase momentâneo.
nalista Jung diz que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Torna-se artigo de primeira viagem o despertamento primeiramente em si, depois podemos falar sobre A, B, C etc. E como disse a psiquiatra junguiana Nise da Silveira “gente curada demais é chata”.
A vida é maravilhosa e para nós: tudo será possível! Quando focamos a deficiência do outro e não a nossa, estamos fadados ao fracasso e o pior é que, não nos atentamos para essa realidade nua e crua. Que fique lançado um desafio: vamos parar de falar e que tal provocarmos uma ação positiva em prol do todo primeiramente em nós? Não podemos – e nem devemos – mudar o outro pois essa troca de papéis felizmente não nos cabe! Mas que essa mudança que tanto se fala e almeja, comece primeiramente em nós. Sejamos a mudança que tanto queremos – de forma equivocada – no outro! Termino esse artigo lembrando algo forte em mim: complexo, somos nós!
E como de início, continuo com a mesma opinião de sempre dizendo e, preferindo acreditar que o “Alemão”, é uma benção sim. Complexos somos nós!