Esse é meu artigo de estreia aqui no Voz das Comunidades, então optei por me apresentar nele e contar um pouco como é minha vida na Favela onde moro.
Me chamo Luis Martins, tenho 23 anos e sou estudante do 4º período de Psicologia. Moro no Jardim Fepasa, periferia de Jundiaí-SP. Esse artigo tem o intuito de revelar como é as extremidades de um jovem estudante que mora em uma periferia carente de atenção no Estado de São Paulo.
Aqui já vi de tudo, desde assassinato, até uma mãe que chora ao ver o filho cantando em um palco. Mas e porque eu nunca vi alguém do meu bairro se formar na Universidade? Somos cerca de 3 mil pessoas habitando três ruas que até o final dos anos 90 eram de terra batida sem asfalto.
Teste 3
É cruel ver que algumas pessoas têm oportunidades demais e outros que tem de menos. Ou simplesmente não tem. Quando ingressei na faculdade, no curso de Administração, em 2010, eu descobri um mundo até então desconhecido para mim, mas que era habitual a muitas outras pessoas da mesma faixa etária que eu. E porquê? Vivíamos na mesma cidade, e porque uns tinham acesso a informações e outros não?
Talvez a segregação símbolo do apartheid ainda esteja viva, um pouco enfraquecida, mas existente. Talvez o “negro favelado” ainda seja visto como uma ameaça, e apesar disso eu quis nadar contra a corrente e quis um mundo diferente pra mim. Não quero ser vítima do destino escrito, eu tenho a convicção de que eu posso mudar a minha história a qualquer momento.
Então nada melhor que o conhecimento, a incessante busca pelo saber para tomar como uma linha de partida para que essa mudança seja iniciada. E depois desse pequeno desabafo, eu fico me questionando se eu sou um derrotado por morar nesse bairro… E sabe qual a resposta que eu encontrei? Que não, não sou um derrotado, não sou inferior e nem menos capaz.
A vida nos dá condições para vivermos, mas também nos dá ferramentas para que possamos viver de uma maneira diferente, e mudar aquilo que até então estava estagnado sem perspectiva de evolução. É tão estranho saber que o que buscamos é, viver em uma utopia, mas que na verdade o mundo perfeito é inexistente, o que nos cabe é lutar e ir atrás para que ele seja melhor.
Então, aqui na minha favela tem as extremidades que também estão presentes de Norte a Sul do nosso amado Brasil. Temos aqueles que buscam as oportunidades, temos os que buscam o caminho mais fácil e ainda aqueles que ainda não sabem o que é melhor para si. Ou seja, não importa o lugar em que você mora, ele só vai definir se vai ser mais fácil a luta ou não, mas quem decide ir atrás e buscar o que almeja somos nós mesmos. Sou feliz em viver em uma comunidade onde me viu crescer, onde apesar das dificuldades todos chegam cansado ao final de um dia de trabalho, mas que não perdem o sorriso no rosto e sabem que nenhuma luta é em vão.
Como diria Chorão: “Faço da dificuldade a minha motivação”. Termino essa pequena reflexão desejando que os jovens favelados, não se achem inferiores ou menos favorecidos. Espero que usem dessa condição como uma motivação para ir além.
Me chamo Luís Martins, tenho 23 anos, sou estudante de Psicologia da Universidade Padre Anchieta, em Jundiaí – SP. Moro no Jardim Fepasa, uma periferia de Jundiai.