Não era sexta-feira. Não estava subindo lugar nenhum. Na real, já estava em posição fetal indo dormir quando aquele som de mensagem no WhatsApp despertou minha curiosidade. Era um amigo MC que não domina o poder de síntese enviando um áudio de quase um minuto. Resumindo, ele dizia “Aê, vâmo lá naquela parada amanhã comigo. Sem cutcharra!”. No auge do meu desconhecimento sobre aquilo, seja lá o que fosse, perguntei onde era esse tal de “Sem cutcharra”. Um bar? Um puteiro? Uma loja? Um aviário? Cogitei tudo, mas “Mano, é uma gíria” respondeu o MC rindo em outro áudio sem noção de mais um minuto.
Perdi o sono. Corri para o computador. Fui atrás da tal “cutcharra”. De onde ela vinha? Do que se alimentada? Primeira hipótese, “cutcharra” vinha de “cuchara”, que em espanhol quer dizer colher. Não fazia sentido. Segunda hipótese, em português “cucharra” também é colher, mas feita de chifre, porque o brasileiro gosta, né? Enfim, outra vez a coisa não fez sentido. Na terceira hipótese apelei. Busquei pelo contexto daquilo em letras de funk, que são uma espécie de enciclopédia das gírias modernas. “Bingo!” (gíria da minha avó para dizer que conseguiu algo).
Caô; frescura; palhaçada; enganação. Pelo contexto desvendei o mistério da cutcharra e anotei no meu caderninho de novas gírias. Depois foi só empostar a voz, pegar o celular e devolver o áudio dizendo “Já é, mermão. O bonde é sem cutcharra!”. Passar atestado de leite com pera todo dia? Tô fora!