Cria do Alemão, o atleta de 26 anos divide seu tempo entre ser motoboy, motorista de aplicativo e seus treinos
Determinação é uma palavra que define muito bem o atleta Vinicius Chein, que aos 26 anos vive um dos momentos mais esperados de sua carreira: lutas internacionais, e uma delas, valendo o cinturão. Com o amor pelas artes marciais correndo em suas veias desde muito novo, o atleta teve que vencer muitas lutas fora do octógono para que pudesse se dedicar cada vez mais ao seu sonho.
Morador da comunidade Pedra do Sapo, o cria do Complexo do Alemão começou sua trajetória aos 12 anos de idade do Muay Thai, onde sempre foi destaque e ganhou inúmeras lutas e competições e dentre tantas batalhas, a mais dura delas foi a de manter o foco no sonho e não desistir de chegar ao MMA, mesmo diante das dificuldades do dia a dia.
‘Para você lutar profissionalmente, tem que treinar no mínimo 6 horas por dia, e aí fica complicado conciliar a rotina de treinamento com meu trabalho no moto táxi e como motorista. Eu precisando perder peso tendo que treinar e dirigir, é bem complicado, mas sem o que eu ganho com o trabalho não seria possível seguir com os treinos’, conta Chein.
Teste 3
Vinicius, que foi criado somente pela mãe, Dona Vera, teve uma infância dura e viveu alguns momentos de muitas dificuldades devido à falta de dinheiro para pagar academia, fazer inscrição em lutas e também para ter a alimentação necessária e todo o material para a luta. Um dos momentos mais complicados foi quando não tinha mais dinheiro para pagar a academia. O seu mestre Marcio Caverna, vendo toda sua vontade em viver da luta, decidiu contribuir ainda mais para a formação do lutador.
‘Eu treinava em Pilares, saia da escola e ia direto pro treino e teve um dia que cheguei muito triste porque eu já não tinha mais como pagar academia. Quando ele viu que eu tava todo para baixo, contei que não tinha mais dinheiro para pagar, ele me disse que a partir daquele dia eu pagaria minha mensalidade com os treinos’, conta.
Visivelmente emocionado ao relembrar esses momentos, Vinicius ressaltou a importância do mestre Caverna, que não foi somente como um mestre no Muay Thai, e sim um grande pai e uma referência como homem e de caráter. Para ele que sempre foi desacreditado no ambiente no qual vivia e que tinha só a mãe como incentivadora, viu no apoio do mestre uma grande força.
‘Via meus amigos debochando do sonho, outros entrando para o tráfico, e eu ali, focado, correndo, treinando enquanto todos meus amigos estavam na praia, em festas. Só minha mãe falava para eu seguir meu sonho e meu mestre que quando eu falei que seria lutador de MMA, apenas disse que se eu acreditasse, eu seria. Foi o incentivo deles e todo meu foco em vencer naquilo que não me fez desistir, porque fácil nunca foi’, lembra Vinicius.
Sobre os sonhos, Vinicius é direto na hora de deixar um recado para aqueles que assim como ele passaram e passam por muitas lutas e batalhas fora do octógono para vencer no objetivo. ‘Tem uma frase que diz que você é o único responsável pelos seus sonhos aqui na terra, então, acredite em si, coloque Deus na frente e mantenha sempre seu foco, é possível chegar.’, incentiva Vinicius.
Lutas fora do país:
Chein vem dando passos largos para o crescimento na carreira e no dia 30/03 enfrenta o lutador Javi “The Cachorro”, pelo Máximo Xtreme Fight, na Espanha. Além disso, no dia 27/04 ainda tem a luta que ele considera a mais importante da carreira até o momento no primeiro campeonato de MMA em Ceuta, onde ele disputará o cinturão na categoria até 70KG.
Vinicius contou ainda ao VOZ, que pretende aproveitar ao máximo o período que estará fora do Brasil e pode ser que entre uma luta e outra apareça mais alguma luta ou que tenha que estender sua estadia fora do país devido à outras lutas.
Projeto social:
Tendo a luta como grande inspiração e sendo prova viva que mesmo diante as dificuldades do dia a dia é possível ir em busca do sonho, Vinicius contou que durante um tempo montou um projeto que começou nas ruas do Alemão com o intuito de ensinar as crianças da comunidade tudo aquilo que ele aprende com as lutas e também toda disciplina e foco, mas infelizmente, devido à falta de apoio para comprar os materiais necessário, a falta de luvas e protetores para as crianças, ele teve que dar um tempo no projeto que é um dos grandes objetivos do lutador.
‘É muito difícil conseguir incentivo e ajuda, muita gente tem até a boa vontade, mas não tem como ajudar e sem o dinheiro não tinha como comprar luvas, outros materiais e manter um local adequado para as aulas. Mas tenho certeza que vou conseguir voltar com isso, é muito importante tirar as crianças das ruas e ensinar algo bacana, sem contar que muitos tem talento. Era gratificante demais ver a alegria das crianças e quero muito retomar isso, quero poder passar adiante o que aprendi.’, revelou.