‘Hoje eu consigo ir a um restaurante, entrar em uma loja e comprar o que nunca tive’, diz DJ
Gabriel Luiz do Santos, conhecido como DJ Gabriel do Borel é um dos artistas mais requisitados para tocar em festas no Rio de Janeiro e fora da cidade. O jovem de 20 anos é nascido e criado na favela localizada na Tijuca, zona norte carioca, e começou no funk aos 13 anos, quando quis ser MC. Hoje, a principal fonte de renda do jovem é a música originalmente das favelas.
Do morro do Borel para o asfalto, para outras comunidades e viajando pelo país para mostrar o ritmo que acompanha a maior parte da juventude de favela: o funk. Gabriel conta que aprendeu a produzir músicas sozinho. Há dois anos, ele ficou famoso após criar uma “batida” que se espalhou e faz referência ao nome da favela onde vive. De lá para cá, a carreira do artista alavancou. Com a agenda de shows lotada, faz cerca de 30 apresentações por mês pelo Brasil, mostrando a cultura de favela que resiste, assim como o samba resistiu um dia. E é neste compasso que o músico faz planos para melhorar as condições de vida da sua família e contribuir para a sua comunidade. “O funk é tudo para mim desde pequeno. Quando era criança, sonhava em ser reconhecido um dia e foi no funk que encontrei essa chance”, lembra.
O retorno financeiro da profissão vem garantindo acesso a outros espaços que, antes, estavam fora do alcance do DJ. “Hoje eu consigo ir a um restaurante, entrar em uma loja e comprar o que nunca tive”, relata o músico. Depois do sucesso, o sonho de dar uma casa para a mãe está vivo e ele afirma juntar dinheiro para comprar o imóvel. Santos também é compositor e já produziu músicas para outros artistas. Gabriel pontua que uma das primeiras conquistas foi realizar a primeira viagem de avião, o que significa, para ele, alçar voos mais altos. Logo, lançou uma música com a participação de MC Livinho e fez seu primeiro clipe, gravado no morro do Borel.
Teste 3
A ausência do poder público com investimentos em infraestrutura, educação, saúde, cultura e lazer nas comunidades faz com que os jovens procurem outras alternativas para viver, ou sobreviver. E o baile funk é visto pela juventude como uma forma de diversão. “As pessoas não têm outra forma de lazer, porque ir para uma boate tem que ter dinheiro”, explica. “Dentro das poucas oportunidades, o funk foi o que sobrou para mim. E para outros meninos como eu, o que sobra?”, questiona.
Em 2017, um projeto de criminalização do funk foi rejeitado pela Comissão de Direitos Humanos e Participação Legislativa do Senado Federal, uma vitória para os que defendem o estilo como expressão artística e cultural das comunidades cariocas. O funk também é geração de trabalho e renda. A equipe deste fenômeno musical é composta, majoritariamente, por jovens de favela, que acompanham o artista em viagens e produções de novos hits.
Na última quarta-feira (24), o DJ Rennan da Penha, que tem origem na Vila Cruzeiro, se entregou à polícia. Ele foi acusado de associação ao tráfico de drogas por produzir baile funk em uma comunidade da capital fluminense.
Perguntado sobre como avalia a prisão do DJ Rennan da Penha, colega de profissão, ele diz que é injusta e afirma que os bailes funks estão longe de acabar. Como legado de sucesso, Gabriel reconhece que as oportunidades não são as mesmas, mas comenta o desejo de ser uma referência para a juventude moradora de favela por meio da música. “Além de DJ, sou empresário, lanço pessoas no mercado e quero mostrar isso para a minha favela”, finaliza. Gabriel, que tem pouco mais de 590 mil seguidores em suas redes, quer alcançar o mundo e, para isso, aposta no lançamento de uma música internacional em breve.
Relembrando o caso Rennan
O DJ teve a prisão prisão decretada pelo Tribunal de Justiça do Rio, a pedido do Ministério Público e deve cumprir pena de 6 anos e 8 meses em regime fechado. No mesmo dia em que Rennan se entregou à polícia, o Superior Tribunal de Justiça concedeu um habeas corpus ao ex-secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, preso pela Lava Jato e acusado de participar do esquema de corrupção de Sérgio Cabral que desviou milhões dos cofres públicos.
A condenação do artista se deve à organização do Baile da Gaiola, que já chegou a reunir, em uma edição de julho do ano passado, cerca de 25 mil pessoas no Complexo da Penha, zona norte da capital. Nas redes sociais, emocionado, Rennan agradeceu o apoio dos fãs e disse que acredita na justiça.