Dois dias a bordo de um barco para discutir o futuro sustentável da Amazônia

Em junho, o jornal Voz da Comunidade foi convidado a visitar o estado do Amazonas. Muitas foram as expectativas que surgiram no planejamento da viagem. Nos reunimos por vários dias na redação programando o imprevisível. Ao chegar lá, constatamos que nossa programação não cabia naquela realidade. As surpresas foram moldando nosso roteiro de trabalho e nos encantando.

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No avião, ao sobrevoar a floresta, veio o primeiro impacto diante da imensidão que eu só conhecia por livros de geografia e matérias de jornal: a maior reserva de água doce do planeta. Eu, carioca, com o conhecimento apenas de florestas urbanas como o Parque Nacional da Tijuca, nunca imaginara o que seria estar diante de mais de cinco milhões de quilômetros de mata, o que corresponde a 42% do território de todo o Brasil. Esse verde a perder de vista é recortado pelo rio mais longo do mundo, o Amazonas. Visto de cima, parece sem fim, mas navegar por ele é simplesmente impressionante. É como o mar sem ondas e de água doce. Só então me dei conta de que estava indo cobrir um evento que buscava um caminho para preservar tudo aquilo.

O motivo da viagem foi conhecer 15 projetos que, com soluções inovadoras, buscam o crescimento sustentável do Amazonas. Os autores das propostas defendem que a floresta gera mais riqueza de pé do que no chão. A Coca-Cola Brasil, em parceria com a Artemisia, entidade que orienta trabalhos com impacto social positivo por todo o país, premiou essas iniciativas e a todos nós com a incrível experiência de dois dias imersos, a bordo do The Boat Challenge. O evento discutiu soluções para agricultura sustentável, sociobiodiversidade, saúde, bem-estar e qualidade da água. Durante o evento, os empreendedores foram desafiados a repensar todos os aspectos de seus projetos.

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Crianças brincam em Rio, no Amazonas (Crédito: Betinho Casas Novas)

Foi bacana observar planos de melhoria de renda para a população ribeirinha, otimizando o extrativismo e a produção de alimentos da cultura local, como o tucupi, o açaí, o cacau e o peixe. Também havia propostas para melhorar a comunicação, o transporte, a saúde ou estimular o turismo. Para os empresários, a viagem representou a oportunidade de receber atendimento em tempo integral de consultores e facilitadores convidados pela Coca-Cola Brasil.

Ao final, foram escolhidos três empreendimentos que terão acompanhamento continuado da Artemisia: a Unidade de Beneficiamento de Produtos Florestais (UBPF), que auxilia na economia de pequenos produtores conectando-os a grandes compradores; o Mini-Trat, que é uma estação residencial de tratamento de esgoto para reuso da água; e a 100% Amazônia, que trabalha a coleta cooperativista de matéria-prima, transformando-a em produto de exportação para empresas internacionais.

Chamaram minha atenção algumas iniciativas que podem ser adaptadas para o Rio de Janeiro, como o tratamento de esgoto com uma solução de baixo custo, e a construção de casas com blocos de gesso para controlar a temperatura e a transmissão de doenças em moradias impróprias. Ou seja, cuidar da floresta gera um impacto não só lá. As soluções para a Amazônia podem ser adaptadas a várias outras situações por todo o país.

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Festival folclórico anual tem disputa entre Boi Garantido, de cor vermelha, e Boi Caprichoso, de cor azul (Crédito: Betinho Casas Novas)

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O passeio por Parintins

Nossa viagem pelo Rio Amazonas começou em Parintins, com a programação do festival folclórico. No pequeno intervalo que tivemos, fomos conhecer um pouco da cidade, que é a segunda mais populosa do estado, depois de Manaus. Nossa primeira parada foi na parte baixa do rio, onde se encontram as palafitas, estacas que sustentam as casas feitas de madeira.

A surpresa foi encontrar um gravíssimo problema de saneamento que contamina demais o Amazonas. Ao conversar com os moradores, descobrimos que pouco se faz por aquelas áreas mais pobres. Algo parecido com o que vivemos aqui, nas nossas comunidades. Quando acontece a cheia do rio, tudo se alaga. Por isso, as famílias possuem poucos móveis dentro das casas, e os objetos de maior valor ficam no alto, fora do alcance da água.

Seguimos caminho e chegamos ao Bumbódromo, que é a arena dos festejos do Boi Bumbá. O entorno do Bumbódromo é bem parecido com a concentração que temos no sambódromo durante os desfiles das escolas de samba do carnaval do Rio: barraquinhas para venda de camisas e adereços, música, comida e alegria. As alegorias têm cerca de 27 metros. São tão altas quanto as cariocas. Pude circular pelo entorno e observar a riqueza de detalhes das esculturas. A maior diferença entre a festa de Parintins e o nosso carnaval é que, no Rio, são 12 escolas, mas, em Parintins, apenas dois bois que se apresentam: o Caprichoso e o Garantido. São três dias de apresentação. Presenciamos o último, e quem saiu vencedor este ano foi o Garantido.

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Com o The Boat Challenge, Coca-Cola Brasil, em parceria com a ONG Artemisia, favorece startups que procuram soluções para a região amazônica (Crédito: Betinho Casas Novas)

No carnaval carioca, os participantes desfilam numa avenida com capacidade para mais de 70 mil pessoas. Lá, a festa é numa arena, com a capacidade para 35 mil visitantes. A energia da festa é impressionante. Chorei ao chegar e fiquei com o coração acelerado em boa parte do tempo. É um espetáculo lindo e apaixonante. Saí de lá querendo ficar mais tempo, peguei o último ônibus de volta para o barco.

Depois da experiência, dormimos no barco já navegando. Ao acordar, abri a janela da cabine e não vi a margem do rio. Respirei o ar com cheiro diferente, sem poluição. Acompanhamos meninos brincando de saltar da canoa, como se estivessem numa piscina, e não num rio tão profundo. Ao longo do trajeto outras canoas se aproximavam com famílias que acenavam para nós. Algumas com crianças de colo. Devido à distância entre as cidades, a população ribeirinha recebe doações de embarcações que passam e lançam roupas e comidas. O agradecimento vem com muitos sorrisos.

Na última noite, conheci a pintura que a lua desenha no rio ao refletir seu rastro de luz e acompanhei a dança das estrelas cadentes. Nunca vira um céu tão estrelado. Admirei o cenário por horas, agradecendo o privilégio de estar ali.

Antes de desembarcar em Manaus, presenciamos o encontro dos rios Negro e Solimões, onde nasce o Amazonas. Ali percebi que Deus existe! As águas não se mesclam por conta da diferença de densidades, temperaturas e velocidades. Os dois rios seguem juntos, mas sem se misturar por vários quilômetros. Coisa linda demais!

Ao fim da viagem, aquela despedida difícil do lugar e das pessoas com quem convivemos durante essa jornada. Muitos vínculos foram feitos ali, tanto profissionais quanto pessoais, e todos saímos diferentes, tenho certeza, e com uma paixão ainda maior pela nossa floresta. Um lugar de encantamento e que necessita dessa e de muitas outras iniciativas para continuar de pé, cumprindo seu importante papel no planeta. Voltei mais consciente, como cidadã e como gente. O Amazonas me fez mais verde e mais humana.

*Texto também publicado no Journey da Coca Cola Brasil

Página no Facebook: Coca Cola Brasil

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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