Próxima estação: Méier. O dia começou cedo, disputando centímetros entre trabalhadores já cansados numa quarta-feira de mormaço, típico do outono carioca – que não sabe se dá praia ou rolé de long. Da estação de trem à praça que recebe a Roda Cultural do Méier é um pulo.
Sentados no meio-fio estão o Coé e o Sant. O grande Fábio Broa tá de pé, na maior pinta de anfitrião. Tem uma galera da produção junto, aguardando o restante chegar. Senhoras e senhores, sejam bem-vindos aos bastidores de “457”.
Partiu, Ipanema.
Teste 3
Mas antes da gente tocar o zaralho no ônibus, alguns takes no “terminal do Amstermeier” e altas histórias entre a galera. “Lembro do Chorão vindo aqui na praça entregar panfleto pro show do Charlie Brown no Imperator”, conta o Broa. Enquanto isso, do outro lado da plataforma, o Coé tá indo buscar o Fusca. O mano do drone vai testando o equipamento e mais umas imagens são captadas.
Saindo do terminal, esbarramos com uma fiação cheia de tênis. A galera teve que parar pra tirar foto, coisa de suburbano homenageando seu próprio lugar. Entramos de bonde no 457 e lá fomos nós, filmando e zuando, no caminho pra sul.
Maneiro mesmo foi ver uma senhora com o filho balançando a cabeça enquanto tocava o som. Sant impecável na atuação, trocando altas ideias, dá um brilho na tarde. Na rota, uma cena meio bolada: é que o motorista não parou no ponto para um estudante e ele chutou a porta do carro até parar. O muleque só queria estudar, mas o motorista não queria parar no ponto porque ali tinha muito assalto. Não anotei a placa do lugar.
Toma-lhe Mangueira, túnel, Laranjeiras, Botafogo, Copacabana… Ipanema. Mesmo com todo o rolé da viagem, a galera já chega embrasada na praia. Mas peraí, porque temos um presentinho: a mãe do Coé mandou altas quentinhas pra galera.
Estrogonofe, fera.
Ali entre o posto 8 e 9 a gente resolve parar pra rangar. E toma-lhe talher descartável, refri de 2 litros, gente sentada no chão, bate-papo enquanto come e todos os elementos básicos de um rolé da nossa turma pelas bandas da praia. Antes da gente partir pra essa missão, no início do dia, o Coé deixou clara a sua felicidade: “aqui a gente tem pessoas de vários lugares da zona norte. E hoje a gente vai viver um momento importante, cruzando a cidade enquanto grava o clipe de uma música tão significativa”. Po, rola até um silêncio.
Bate um orgulho danado que só quem já sentiu o sol queimando a pele na janela do ônibus conhece. A simplicidade e a beleza da vida no subúrbio ficaram ainda mais latentes naquela tarde. Nem o Méier nem Nova Iguaçu têm praia. Caxias não tem privilégio. Santa Cruz também não. Se vivo numa “cidade metropolitana”, o rolé no 457 serviu pra reforçar isso de alguma maneira.
Enquanto a gente comungava daquele momento, chega uma moradora de rua pedindo comida. A gente tinha pouca, a conta tava meio que certinha. Geral com fome e alguém poderia querer/precisar repetir. Parados em frente àqueles prédios com o metro quadrado mais caro que a minha casa, éramos ricos comparados àquela mulher, que não saiu do nosso meio de estômago vazio.
A beleza desse rolé é que vivemos, na prática, as palavras da música em sentido mais literal: “Certo é o certo e humildade prevalece, não importa a geografia que tu assina no teu cep”.