Fica quietinha não, bebê!

Arte: Helena Schmidt

Texto escrito por:  Clara Sthel | Revisado por: Gabi Coelho | Arte: Helê Colagens

Escrevo este texto pensando na quantidade de homens que conheço com a autoestima elevada. Caras que realizam trabalhos, projetos e  ações medianas, mas quando são criticados não aceitam de forma alguma. O ego do homem não tem limites, nunca duvide disso. Em contrapartida, faço uma lista mental das mulheres incríveis que conheço: da minha rua, família, no trem, as  amigas das amigas e por aí vai.

Algumas observações do dia a dia me dão algumas pistas do porquê, nós, mulheres, ainda temos um medo de mostrar as nossas opiniões. Preste atenção quando uma mulher fala em público: mesa de bar, sala de aula, ponto de ônibus, fila de mercado, escritório, sobre qualquer assunto. Em menos de cinco minutos um homem a interrompe falando a “opinião dele”. Quantas vezes você já foi interrompida antes de concluir o que estava falando? Parece bobeira mas quando não escutam a gente, além de ser uma falta de educação  é também uma forma simbólica de fracassar nossas ideias. Não somos preparadas para falar o que pensamos em público, porque a resposta é o desinteresse de quem nos ouve ou o corte brusco da nossas vozes. Muitas vezes não falar é uma escolha protetiva de preservar nossa saúde mental, mas não precisa ser assim.

Teste 3

Meu papel aqui não é ensinar aos homens a não interromper uma mulher enquanto ela fala, e sim encorajar você, e às vezes até eu mesma, a expor nossas opiniões sobre os assuntos que temos conhecimento. Seja como acender uma churrasqueira até sobre a forma atual de se fazer política no Brasil. Suas ideias precisam correr pelo mundo do mesmo jeito que você corre todo dia para pegar o ônibus.

Todas nós temos habilidades, pensamentos, propostas e novos jeitos de se fazer. Mas se não focarmos e valorizarmos o que produzimos e o que outras mulheres já fazem, estamos indo pelo mesmo caminho que a sociedade já nos colocou por séculos: de não protagonistas das nossas próprias histórias. Quando falo de inteligência não falo apenas de fazer faculdade, até porque, hoje, é uma  pequena parcela da população cursando o ensino superior no Brasil, na última matéria que li era 14% dos adultos brasileiros, o que nos indica que, há muitas pessoas inteligentes por aí que ainda não tiveram acesso à universidade. Não duvide dos seus potenciais por causa de um problema social do Brasil.

Há também um pensamento que a intelectualidade/inteligência está presente somente nas pessoas que fazem faculdade. Mas, eu acredito que a  intelectualidade é perceptível em vários níveis. Por isso, não se deixe calar pelo fato de não ter (ainda) cursado uma faculdade. O conhecimento está presente nas suas vivências, olhe ao seu redor,  Sua avó que criou sete filhos e dois netos sem dinheiro e sozinha. Ela sabe muito de economia e ´planejamento, tanto quanto alguém que cursou economia. A diferença que ela aprendeu na prática. E com certeza, ela tem muito mais  a dizer e a repassar a nós, mulheres do nosso tempo.

Se você estiver pesquisando algo na sua faculdade, continue pesquisando e depois espalhe sobre as conclusões que você chegou. Se você costura, solda, constrói casa, advoga, revende cosméticos, pinta quadros, faz bolo para vender, administra um salão de beleza entre outros ofícios. Fale das suas descobertas.  E lembre-se sempre: fica quietinha não, bebê!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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