Você pode não perceber, mas você quase nunca se percebe… Quando pensa em olhar para si o tempo tapa seus olhos e diz: Não pode… Por que você está atrasado para o trabalho, para o almoço, para a academia, para o encontro, para dormir… Finalmente chega o fim do dia, você fecha os olhos e no dia seguinte os abre, num dia igual a todos os outros… Os abre? De que adianta abri-los se o tempo que passa tão de pressa quanto ontem te impede de se ver como sempre? São muitas obrigações. Ah, mas não importa, o fim de semana chega e eu quero viver tudo o que não pude durante a semana. Bares, cinema, festas, churrasco, só me esqueci de separar um minuto para me ver, minuto que não terei esta semana novamente, pois já é segunda-feira, e eu estou atrasado para o trabalho… Que tipo de dano sofre a alma quando é esquecida? Pergunte a um idoso que vive no asilo, cujos filhos são bem de vida, mas recusam cuidá-lo por que são muito ocupados com suas famílias e empregos. A alma não grita, mas chora, até grita, mas você não a escuta, e quando ela chora você sente. Os amigos esfriam, o relacionamento esfria, o trabalho esfria, a rotina esfria, os sonhos esfriam, seu coração se esfria. E quando você menos espera, nem se reconhece mais, passou a ser como os minutos corridos do tempo, e se tornou como todos os humanos, como qualquer minuto, sempre na mesma medida, iguais, proporcionais, escravos do tempo… E escravos do lamento em questão de tempo… A não ser que você separe um tempo para olhar para si de vez em quando… Mas, se no mito da caverna, olhar para o mundo causa tamanha dor aos olhos, garanto que olhar para si provoca o cêntuplo da dor, por que julgar a si mesmo é cem vezes mais difícil que as coisas em volta, as coisas fora da caverna… É por não ficar triste às vezes, que você ficará muito mais…