Parece que as coisas não são como parecem ser, parece que não há uma ordem natural de progressão com o passar do tempo no que se refere ao campo do amadurecimento, e aqueles que se sentem mais maduros a cada dia, podem estar se enganando.
Nascemos, contemplamos inúmeras coisas com um pequenino cérebro a todo vapor, e então começamos a definir nossas primeiras noções de mundo. Nos primeiros anos de vida, enquanto crianças, gradativamente este ritmo de contemplação das coisas desacelera, mas o ritmo de aprendizagem ainda é muito intenso, e claro, cometemos diversos erros comportamentais, tendo em nossos pais, os principais tutores de como devemos nos portar.
Com o passar do tempo, já com espinhas no rosto, nos deparamos com a difícil fase da adolescência, onde somos incompreendidos e vivemos num mundo incompreensível, também onde começamos a descobrir o peso de dar os primeiros passos rumo aos sonhos inalcançáveis que foram talhados na infância, e também onde nos aventuramos amorosamente com decepções, “platonices”, cantadas ruins, foras, e intensas paixões…
Teste 3
Passa-se um pouco mais de tempo, e já somos recém-adultos, ou pré-adultos, agora já calouros, de cabelo raspado, com um emprego simples, contribuindo para pagar a gasolina do carro que o pai nos empresta de cara amarrada, e também para poder bancar as bebidas que agora são consumidas num ritmo que na adolescência não era possível, afinal, não éramos adultos…
É a partir dai que as coisas começam a tomar outro rumo. Quando você se torna um adulto, começa a de fato a se comparar consigo mesmo e com o mundo, começa a se comparar com o que imaginava ser neste estágio da vida e com aquilo que seus amigos de sucesso já estão se tornando. É neste momento que seu ego aflora como nunca e começa a tomar conta, como um câncer, de alguns comportamentos inconscientes…
O adulto é, na maioria das vezes, a etapa mais dissimulada de sua vida, afinal, você já não se comporta mais feito um bobo na frente da turma durante a apresentação de trabalho, você agora fala com voz alta, firme e forte. Mas, este fato não me deixou desaperceber que o adulto é a etapa mais tímida de sua vida… E timidez e dissimulação não são opostos que se anulam.
Lembra-se que quando você era criança podia cair e se levantar em meio às risadas sem se sentir ofendido? Lembra-se que quando criança você podia apanhar sem ter a vontade de se matar ou matar o agressor por conta disto? Lembra-se que quando criança você podia ver a sua namoradinha de mão dada com outra criança sem ter uma forte depressão ou ataque de ciúme? Era só assistir aquele episódio engraçado de bob esponja no fim do dia e metade dos seus problemas eram esquecidos… Que anjinho sem rancor que éramos, né?
Pois é, um anjinho impossível de se ser quando se é adulto, afinal, seu ego se encontra tão, mas tão encurralado frente à idiota pressão social, frente à idiota pressão que você mesmo coloca sobre si ao se comparar e ser comparado com os vencedores constantemente, que a menor das fagulhas pode desencadear uma explosão nuclear… Ou seja, quando um adulto cai, sabe-se lá por que, mas ele passa o dia inteiro mal, chateado, constrangido, magoado, ferido, preocupado, ilogicamente consternado. Quando um adulto apanha, toma uma surra, por conta deste inconsciente sombrio, protótipo da pressão social, sente muitas vezes vontade de se matar ou de matar, o mesmo vale para os casos de traição e etc. Ou seja, nos adultos os eventos provocam uma onda de sentimentos e uma sensação de humilhação que nas crianças seriam inimagináveis,
E o que isto significa? Significa que não percebemos que ao longo dos anos, apesar desta imagem imponente que o tempo em nós constrói de adultos, nos tornamos no fundo, por conta de comparações e insucessos próprios, criaturas inconscientemente amarguradas e, portanto, suscetíveis ao exagero sentimental, à desproporção de resposta sentimental, vulneráveis à explosão por que com o tempo, “desamadurecemos” sem perceber, na medida em que compreendemos o quão difícil é viver e o quão difícil é ter o sucesso que nos propusemos a ter, sendo que na juventude, nossa capacidade “darwiniana” de se ajustar ao meio era maior, afinal, a cobrança sobre nós mesmos era menor.
A conclusão é que à medida que envelhecemos nos tornamos gradativamente mais vulneráveis emocionalmente. Creio que o amadurecimento não é necessariamente um processo de compreensão das coisas e fenômenos atrelados ao nosso bem estar social e sucesso pessoal apenas, creio que o amadurecimento esteja relacionado à capacidade de combater a pressão social, e claro, quanto mais compreendemos as dificuldades mundo, maior se sente esta pressão, mas creio que amadurecer seja compreender fenômenos atrelados ao nosso bem estar pessoal, pois só com uma compreensão profunda do eu é que se combate com sucesso a pressão social, é que se obtém os comportamentos que costumávamos ter na infância, indiferentes aos problemas da vida, onde nosso ego não se encontrava tão ferido quanto o da maioria dos adultos.