Cria da Favela do Fumacê é campeão na Taça das Favelas pela Vila Aliança

Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades
Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Marcos Paulo Viveiros Leão, o Juninho, conta como chegou até o ouro

O volante da Vila Aliança, Marcos Paulo Viveiros Leão, o Juninho, é tímido de ficar com as bochechas rosadas. Ainda mais quando conta, escondendo o sorriso, sobre o dia em que concretizou um sonho antigo: vencer o maior torneio do mundo de futebol de campo entre favelas, na edição da Taça das Favelas 2017, realizada pela Central Única das Favelas (CUFA).

“Sempre tive o sonho de ser campeão da Taça das Favelas. Vencer é sempre bom, mas esse campeonato é especial. É uma Copa do Mundo para os garotos que são de comunidades, como eu. Foi um dos melhores dias na minha vida.”

Apesar de ter levantado o troféu pela Vila Aliança, comunidade de Bangu, Juninho é cria da Favela do Fumacê, em Realengo, onde morou por 15 dos seus 18 anos de vida.

Teste 3

Como o time do Fumacê não conseguiu classificação este ano, último em que Juninho poderia participar por causa do limite de idade, ele acabou aceitando um dos convites que recebeu para não ficar de fora. Topou o desafio do técnico da Vila Aliança, Frank Melo, que profetizou: “Vem pra cá, que esse ano a gente vai ser campeão”.

Chegando para treinar no novo clube, alguns meses antes do torneio, levou junto o primeiro desafio: estava cerca de 10 kg acima do peso desejável. “Eu estava muito gordo, a preparação foi muito dura. Chegava mais cedo para correr e ficava até mais tarde pulando corda. Precisava emagrecer”.

Apesar da dificuldade, seu feeling de jogador que já passou por clubes como Ceres FC, Caxiense e Campo Grande, confirmava a versão do técnico e anunciava desde o primeiro jogo que o time podia ser campeão, apesar de ter dado de cara, inicialmente, com um empate.

Apesar de ter levantado o troféu pelo time Vila Aliança, comunidade de Bangui, Juninho é cria da favela do Fumacê - Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Apesar de ter levantado o troféu pelo time Vila Aliança, comunidade de Bangui, Juninho é cria da favela do Fumacê – Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Por causa do sobrepeso, no início Juninho ficou no time reserva, mas pegou firme nos treinos e na dieta, que incluía só almoço e jantar. As coisas começaram a mudar nas quartas de final.

Daí em diante, é a história que todos conhecem: a Vila Aliança ganhou de virada do Jardim Bangu, por 2 a 1. Juninho conta com os olhos brilhando, como se valesse tanto quanto o título, o fato de que nunca tinha visto sua mãe tão feliz. Mesmo sem poder estar presente na 福汇 final por causa do trabalho, ela assistiu a tudo pela TV: “Acho que nunca tinha visto a minha mãe tão feliz como naquele dia”. Juninho é um dos filhos de uma grande família: são 11 irmãos, sendo oito da mesma mãe e outros três do pai com outra companheira.

Juninho conta com os pés no chão, mas sem deixar de sonhar, os planos daqui para a frente. Quer fazer um bom Campeonato Carioca no time pelo qual já joga, o Itaboraí, da segunda divisão, e continuar tentando jogar em um time grande. “Quero fazer um bom Campeonato Carioca, para ver se Deus abençoa e abre umas portas.”

Fora dos campos, Juninho diz ter consciência da importância do estudo e, por isso, mesmo sem gostar, está terminando o ensino médio e pretende cursar educação física.

Copa do Mundo? Prefere jogar a UEFA Champions League, a Liga dos Campeões, campeonato da Europa. Sua inspiração também é das bandas de lá: o francês Zidane, atual técnico do Real Madrid, que ele considera um exemplo dentro e fora de campo.

“Para mim não adianta você ser um craque dentro de campo, e fora ser um fiasco. Nesse sentido, para mim ele é o melhor”.

Juninho finaliza dizendo, com propriedade, que a Taça das Favelas abre uma oportunidade de visibilidade para meninos que, até então, só jogavam dentro da sua favela. De fato, esse pode ser o caso dele mesmo: pode ter sido visto só agora, enquanto no Fumacê, já era craque há muito tempo, um verdadeiro bola de ouro.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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