“Alma não tem cor” do Alemão para todo o mundo

Jovens entre 16 e 20 anos se reinventam e descobrem que fazer teatro é muito mais do que se tornar ator

“Percebam que a alma não tem cor. Ela é colorida, sim! Ela é multicolor”, já diz o cantor e compositor Zeca Baleiro. O trecho da música mostra que além de sermos todos iguais, temos a capacidade de sermos quem quisermos ser. Assim é a vida de um ator. A cada personagem que interpreta, é uma pessoa diferente, um homem forte e poderoso, uma idosa ou até mesmo um menininho de cinco anos.

Desde novembro de 2014 o projeto “Alma não tem cor” vem transformando a vida de jovens das comunidades do Complexo do Alemão. A produção e a coordenação fica por conta de Helcimar Lopes, responsável por cuidar dos alunos. Ele envia mensagens, faz cobranças em relação a atrasos e horários, abre e fecha a sala e cuida da produção, para que tudo possa dar certo. As aulas são ministradas e intercaladas pelos  professores Alexandre Pinheiro, Rose Abdala e Filomena Mancuso, da companhia “Fodidos Privilegiados” em uma das salas na torre da Estação Palmeiras do teleférico.

Aproximadamente 200 mil pessoas vivem no Complexo do Alemão e, apesar do número elevado de moradores, a princípio, 45 pessoas se inscreveram para as aulas e atualmente nove alunos estão avos no grupo. Sobre como é dar aula na comunidade, Alexandre diz que está muito feliz. “Sinto-me muito motivado ao dar aula aqui como em qualquer outra comunidade. Aqui é diferente do ambiente de aula tradicional. Aqui tenho meus próprios caminhos. É fantástico! O resultado é constante e diário. Os nove que ficaram são os que estão realmente a fim”, comenta o professor Alexandre Pinheiro, ator formado pela escola de teatro Martins Pena e com licenciatura em artes cênicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UNIRIO.

Teste 3

No teatro “Alma não tem cor”, os homens são a maioria, sendo oito meninos e uma menina.

Sempre que necessário, os meninos caracterizam- se como mulheres sem nenhum problema ou preconceito. “Vejo transformações muito interessantes e significavas. Muito claras, tanto de pensamento, quanto de raciocínio e leitura. Em sete meses é possível ver uma transformação real. Eu me transformei por conta deles também”, declara.

O projeto passou por dificuldades em meados do mês de março por conta dos tiroteios diários que ocorriam na região. O “Alma não tem cor” chegou a ser transferido para outro ponto da comunidade por alguns dias e a possibilidade de

término prematuro do projeto chegou a ser cogitada. “Fui informado que os cursos no Alemão seriam encerrados. Lutamos até o fim. O teleférico ficou parado e passamos as aulas para a Vila Olímpica. Foi uma vitória muito grande da produção e conseguimos justificar para a Secretaria de Cultura que tem gente interessada aqui sim e é possível continuar e investir no Alemão. O teatro precisa sobreviver à violência”, reforça o produtor Helcimar Lopes.

No início de todas as aulas, que acontecem todas as terças e quartas, das 9h às 12h, é servida uma mesa de café da manhã bem farta. Os alunos estão se preparando para o espetáculo que mostrará o resultado do trabalho, que acontecerá nos dias 12 e 13 de setembro, às 16h. O espetáculo promete ser uma fusão de Manoel Bandeira com as bandeiras do Alemão.

Samuel Silva e Alexandre Ferreira são alunos do projeto e hoje fazem sucesso com o canal de humor no Youtube “As aventuras de 100g e Jurubeba”. Sobre o projeto paralelo o professor dos meninos diz se sentir orgulhoso por fazer parte dessa conquista, e também afirma que percebe o trabalho em outros segmentos do teatro, como roteiro e fotografia. “Aqui os alunos vão se tornar atores, mas também podem sair roteiristas, autores, dançarinos e até mesmo um ser humano transformado. O Alma não tem cor é uma proposta de inserir qualquer cor nesse sistema. Essa cor pode ser política, avista, artística. Ela tem tonalidades que vão de A a Z. Todas as cores que possam caber em uma aquarela.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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