O artesão Ailton Pompilho dos Santos está há 25 anos nas ruas com seus trabalhos de entalhamento e pintura
Ailton Pompilho dos Santos, de 51 anos, nascido e criado na comunidade do PPG, é artesão e sua arte é um verdadeiro ativismo social pela desmarginalização do morador de favela. Ele desenvolve há 25 anos seus trabalhos de entalhamento e pintura abstrata e arte naif nas ruas de Ipanema – desses, três em frente à estação do metrô General Osório. Ailton diz que é perseguido pela Guarda Municipal desde que começou a desenvolver o trabalho, mas diz insistir porque não poderia parar, afinal, ainda não está morto para fazer isso.
A ideia de se envolver com arte veio quando criança: ainda pequeno colocou na cabeça que queria ter esse o cio. Por volta dos nove anos de idade, ele já era um admirador de arte, em especial das artes plásticas. Um dia, quando visitava a feira hippie de Ipanema, viu o trabalho de um senhor que estava dando forma a uma fruteira com alguns instrumentos, usando um pedaço de madeira. Ailton ainda se lembra que nesse dia pensou: “um dia ainda farei alguma peça assim, até melhor!”. Dito e feito: começou a desenvolver seus talentos. Infelizmente, isso se deu depois de uma fatalidade, a morte de seu pai. Ailton é autodidata, aprendeu sozinho a entalhar e pintar.
O artesão afirma que as técnicas do entalhamento estão sendo esquecidas com o passar do tempo. “É uma pena, porque as pessoas que começaram esse trabalho já morreram. São poucos os que desenvolvem esse trabalho, ainda mais na rua” – admite Ailton. Ele gostaria de montar um projeto que envolvesse as crianças para que essa arte fosse transmitida para a nova geração. Mas, para Ailton, deveria existir uma política pública que abrangesse melhor os moradores de favela como ele, que são marginalizados. “O favelado é visto como se fosse marginal, sendo que eles (do poder público) é que fazem a gente ser marginal, porque a partir do momento que a gente está na rua, não estamos roubando nem matando, a gente quer trabalhar. E ainda nos repreendem?”.
Teste 3
Sobre a atual conjuntura econômica e social do país, Ailton reflete: “O nosso Brasil está uma bagunça, eles não têm nem moral para chegar em cima de nós, trabalhadores de rua, para repreender. Porque os próprios servidores públicos, os aposentados, estão passando fome, vivendo de esmola. Isso é uma pouca vergonha para o país. O Brasil deveria apoiar tanto os artistas de rua, quanto os camelôs, que é um povo pobre, que depende de colocar o pão de cada dia na mesa e ninguém quer ajudar, só prejudicar”.
“Eu me considero uma pessoa que desenvolve um trabalho e com isso quer viver. Mas o povo diz que eu sou artista. Só que o artista deveria ter respeito, não é?” – Afirma Ailton dos Santos.
Ailton já chegou a se envolver no caminho das drogas, e entende que encontrou sua cidadania através da arte. Isso porque não tem estudo formal e diz que, como viciado, não conseguia se ver livre sozinho. Conseguiu ajuda de algumas pessoas e se agarrou na fé. O trabalho foi evoluindo, e a própria arte foi uma válvula de escape para ele – nem precisou de clínica de reabilitação.
Ailton tem a sua arte espalhada pelo mundo todo através das obras que os turistas adquirem. Muitos de seus admiradores dizem que suas peças – em especial as pinturas – transmitem muita alegria. Para Ailton esse reconhecimento é muito bom, ainda mais se tratando de uma arte que vem sendo extinta. “Quero passar a eles o que há de melhor dentro de mim, que é o que eu sei fazer. Então quando as pessoas compram alguma coisa não é por minha causa, é porque gostaram do meu trabalho”, garante o artesão.
Na confecção dos quadros entalhados (todos com material sustentável, de madeira reaproveitada), Ailton leva em torno de uma hora, podendo variar conforme o tamanho e o detalhamento do desenho. Ele conta que sua maior obra é uma Santa Ceia de 1,15mX39 cm, que ainda está fazendo, há oito anos – o fato de ser uma madeira grossa aumenta a dificuldade do manuseio das ferramentas.
As pessoas que conhecem o trabalho de Ailton dizem que ele é um artista, mas ele mesmo não se considera: “Eu me considero uma pessoa que desenvolve um trabalho e com isso quer viver. Mas o povo diz que eu sou ar sta. Só que o artista deveria ter respeito, não é?” Ouvindo Ailton percebemos que muita coisa pode ser transformada a par r da arte, desde que o poder público respeite e entenda os direitos que deve- riam ser de todos, inclusive do morador de favela. Até esse dia chegar, Ailton persistirá em seu movimento de resistência através da arte pelas ruas do Rio de Janeiro.