Matéria: Eva Oliveira
“Basta. Basta de injustiça e de incertezas“. Esse é o pedido de uma mãe a procura de respostas sobre a morte do seu filho. A luta de Dona Érica Rangel para esclarecer o falecimento do seu filho, Felipe Rangel Santos, de 24 anos, que completa sete meses hoje (19).
O jovem saiu de casa para encontrar alguns amigos na favela da Vila Kennedy e não voltou mais. O desespero desta mãe começou com a falta de notícias. Depois de mobilizar a comunidade para procurar o filho, vou a tragédia se confirmar quando chegou na emergência do Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Felipe Rangel Santos deu entrada ainda com vida, porém sofreu uma parada cardíaca e veio a óbito em seguida.
Teste 3
A mãe relata que nunca foi procurada e nem recebeu nenhum tipo de ajuda do Estado. Durante esses meses, a família sequer teve qualquer tipo de informação sobre o que realmente aconteceu naquela noite. A Polícia Militar afirma que houve operação de repressão aos bailes funk e que o rapaz foi baleado durante troca de tiros na localidade. A corporação afirma, ainda, que havia armas e drogas em poder do jovem. Com a ajuda da advogada Mirian Basílio, que está prestando assessoria jurídica gratuita, foi instaurado um processo a procura de esclarecimentos.
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Trabalhador e pai
Querido na comunidade, Rangel, como era conhecido por todos, deixou um legado entre as pessoas que o amava. Após tentar a vida sem sucesso em Cabo Frio, o rapaz retornou para a casa dos pais para recomeçar e se aproximar do filho Ícaro, de 2 anos. Neste período, o jovem trabalhou como técnico de refrigeração e animador de festas, até conseguir um emprego como técnico de informática na rede de postos Luar. Na véspera da tragédia, dia 18 de janeiro, dona Érica conta que fez macarrão, o prato preferido do filho, e ele ficou em casa brincando com as sobrinhas e o filho antes de ir para o Trailer da Ruiva. Chegando lá, ele e um amigo decidiram comprar cervejas na localidade conhecida como Barrão, pois o preço era mais em conta. Os dois amigos conheciam bem o lugar, já que a avó paterna de Felipe mora lá e a sua mãe teve uma loja de informática no mesmo local. Foi então que policiais à paisana chegaram atirando à esmo e atingiram quatro pessoas, ferindo duas e fazendo dois óbitos, sendo uma delas o jovem Felipe.
Testemunhas relatam que não houve troca de tiros no local, que os militares já chegaram abrindo fogo contra a população que ali estava. Segundo a PM, a operação foi para a repressão de bailes funk, argumento inválido, uma vez que o baile ocorreu em outra parte da comunidade, conhecida como “Marrocos”.
Além disso, havia indícios de espancamentos nos corpos, com diversas escoriações. Denúncias de tortura e omissão de socorro foram feitas por parte dos moradores. Os baleados foram colocados no carro blindado da PMERJ por volta de 1h. Entretanto, só deram entrada na emergência por volta das 3h e, segundo declarações da equipe médica, Felipe chegou com vida ao hospital. A luta da Família Rangel é por justiça e a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ chegou a acompanhar o caso. Contudo, até a presente data, os direitos da família não foram concedidos, já que Ícaro, o filho do rapaz, sequer recebeu o fundo de garantia, o seguro de vida e a pensão que tem direito. Os documentos pessoais que estavam com o jovem no momento do crime desapareceram e a Érica, mãe da vítima, tem encontrado dificuldades para agilizar questões pendentes. Uma batalha judicial está sendo travada contra a Rede Luar e o Estado à procura de respostas.