Para não ficar bolado no Campinho

Já reparou que toda favela tem um lugar chamado Campinho, onde não necessariamente existe um campinho? Pois bem, chega outra vez a sexta-feira, dia de rever os amigos. Saí do trabalho e fui direto para a pelada. Cheguei no pistão, quer dizer, no Campinho, e os times já estavam formados. Fiquei na de fora, trocando uma ideia com a galera. Para mostrar domínio da linguagem local, joguei um “E aí, mec?”, mas um dos moleques me respondeu com “Tega!”. Pronto, parecia que tinha tomado uma bolada. Fiquei mais tonto que o normal.

Dei um Google e o grande pai da internet me disse que tega era um instrumento enviado para Marte a bordo de uma sonda espacial para analisar gases. “Nego viaja grandão!”, pensei. Aquilo não fazia sentido. Como a explicação era mais estranha do que vida em outro planeta, resolvi passar logo meu atestado de leite com pera. Perguntei e a rapaziada me explicou que tega significava tranquilo, suave. Ufa!

Bom, desci e fui para casa com mais três aprendizados na vida. Primeiro, o Google, grande pai da internet que tudo sabe, às vezes não sabe. Segundo, somos mais criativos que os brancos da NASA. Terceiro, favelados são incansáveis na arte de encontrar gírias que significam o mesmo que outras gírias. É um ciclo sem fim, tipo o Rei Leão. E é por isso que a língua portuguesa vive!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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