Dia 23 de abril é dia de Jorge! Conhecido como ‘Santo Guerreiro’, São Jorge é uma das figuras religiosas mais veneradas no catolicismo. Vindo da Capadócia, região atualmente pertencente à Turquia, Jorge foi um membro do exército romano. Mas, de acordo com a doutrina católica, morreu por não negar a fé em Cristo e por se recusar a perseguir cristãos.
Já no Brasil, o santo se popularizou devido ao sincretismo religioso, ou seja, à mistura do catolicismo com as religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e Umbanda. Nessas, Ogum ou Oxossi apresentam características que se assemelham ao santo, dependendo da região onde a fé é professada.
Seja como São Jorge ou “como Ogum”, a fé relacionada ao “santo que mata dragões” é inegável. Diversas músicas brasileiras o homenageiam e nem mesmo a novela Salve Jorge deixou de lembrar a história do mártir. Jorge Ben Jor, que carrega o nome da figura religiosa, em um das suas músicas mais famosas, cita a oração do santo guerreiro. “Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar, pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge”. Zeca Pagodinho, diz na letra de “Ogum”, que é “protegido por um cavaleiro nobre. Sim, vou na igreja festejar meu protetor. E agradecer por eu ser mais um vencedor. Nas lutas nas batalhas”.
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E todos esses versos dialogam com o cotidiano de quem tem Jorge como santo de devoção por aqui, em terras brasileiras.
Dia de São Jorge, dia de nascimento
É o caso de Anita Santana, moradora do Complexo do Alemão. O primeiro filho de Anita nasceu em frente a uma igreja de São Jorge, na festividade de comemoração ao santo. “Eu tive um parto muito difícil. Tive o meu filho em frente à igreja de São Jorge. Ele veio a nascer na hora dos fogos”. A mulher revela que o parto aconteceu quando ela estava apenas com sete meses de gestação. Assim que o bebê nasceu, foi levada ao hospital. Mas, apesar de prematuro, a criança não teve nenhuma complicação. Hoje, o filho de Anita tem 42 anos. “A gravidez foi complicada, ele estava com o cordão no pescoço. Eu pedia: ‘Meu São Jorge, não deixa eu morrer, não!’”, conta ela.
Anita ainda relata qu, assim que o ano se inicia, já começam os preparativos para abril. Além do primogênito, uma outra filha faz aniversário no dia 22 de abril, e a neta, dia 26. “Abril é um mês de festa. Eu sempre faço as feijoadas, ajudo, não como uma penitência, mas como um agradecimento que eu tenho ao São Jorge”, conclui.
Paz espiritual
A devoção à São Jorge aparece até na pele de Marcos Vinicius Moura, o Buruca. O homem, que é presidente da Associação da Caixa D’água da Mourão Filho, no Alemão, resolveu tatuar o santo guerreiro no braço há mais ou menos vinte anos. Para ele, a maior graça alcançada foi a calma interna que precisava.
“A graça que eu consegui foi de ter calmaria espiritual. Porque tem momento da vida que a gente é muito eufórico, tem um nervosismo… então graças a São Jorge, eu tenho uma paz espiritual muito grande”, revela.
O homem também diz que o santo o impulsiona a ajudar os outros e o transformou em uma pessoa melhor. “Agradeço muito a São Jorge por ter me dado essa vontade de fazer as coisas acontecerem. De trabalhar com essa parte social, fazendo doações, ajudando pessoas daqui e de outros lugares”.
Para homenagear o santo, há 15 anos Buruca faz a tradicional feijoada que acontece na comunidade. “A festa tem feijoada, às vezes um padre e uma pequena queima de fogos. A gente vai contando com a ajuda de um e de outro pra coisa acontecer”. Buruca explica que, esse ano, a festa será no domingo (24) e começará às 15h, sem hora para acabar. Um grupo de pagode também promete animar o dia dos devotos.