Blondendê, fazendo nevar para o Natal. Morro do Dendê, Rio de Janeiro. Foto: Melissa de Oliveira
Melissa de Oliveira, 20 anos, é fotógrafa e registra o que vê nas ruas e becos da favela por meio de fotografias. Moradora do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, zona Norte do Rio de Janeiro, retrata o lado positivo da favela. Em maio de 2019, começou a fotografar e publicar no seu Instagram o cotidiano da comunidade. Além da prática, busca por aprendizado técnico sozinha, procurando na internet referências de fotojornalismo e fotografia documental. O contato com arte sempre fez parte da vida da jovem através de desenhos, pinturas e devido à influência familiar. Mas, foi com a fotografia que ela encontrou a melhor forma de se expressar.
A moradora do Dendê foi motivada pela necessidade de documentar as coisas boas da comunidade, já que a mídia tradicional reproduz uma imagem estereotipada da favela, evidenciando a violência e a pobreza. “É o que faz o meu olho brilhar, parece até quando a gente tá apaixonada (risos). Me motiva saber que eu tenho a possibilidade de passar pra um monte de gente tudo de potente que nós temos, fazemos e somos. Quando eu tô fotografando só penso e sinto que eu tenho que continuar”, diz Melissa.
Teste 3
Outra questão que motivou a fotógrafa, foi a falta de projetos na comunidade. Apesar do Morro do Dendê ser uma das maiores favelas do Rio, há poucos projetos sociais na localidade. Melissa contou que os projetos fazem muita falta no Dendê, pois seriam uma ponte para artistas e profissionais se conectarem, como acontece em outras comunidades.
O apoio dos amigos e familiares estimula Melissa a continuar fotografando a favela. Atualmente, ela pensa em dar aulas gratuitas de fotografia na comunidade: “Sinto vontade de ver outros jovens saindo daqui pro mundo, tipo os que saem do Vidigal, da Rocinha, da Maré… É uma corrente do bem. Você toma a iniciativa e encoraja outra pessoa a tomar também, que vai se espalhando e inspirando mais gente e assim as redes se formam. Foi desse jeito que começou nas outras comunidades. Se eu não tivesse uma referência em outra favela talvez não tivesse feito nada aqui”.
As produções e os desafios
O intuito de Melissa é fazer com que as pessoas se vejam nas fotos e sintam-se representadas. A fotógrafa ressalta que é importante as pessoas sentirem que fazem parte do trabalho e, com isso, procura registrar coisas que deixem os moradores empolgados, confortáveis e felizes.
Os momentos em que ela atingiu o seu objetivo ficaram marcados, como os registros que fez de meninos platinando o cabelo no Dendê. “Todos os momentos que eu registrei me marcaram muito, sério mesmo. Mas essas fotos aqui me marcaram demais. Tô falando delas não pelo momento em si, mas porque eu vi muita gente empolgada com essas fotos. Um monte de menino se sentindo representado. Vi a galera colocando de foto de capa e tudo.”
A fotógrafa também contou sobre a experiência em registrar o Festival de Pipas do Morro do Dendê: “Eu fiquei sabendo que os moradores estavam se organizando e a galera já tava sabendo que eu tô registrando as coisas da comunidade. Eu quis e eles também quiseram e eu fui fotografando no dia. Subi um monte de laje (risos). Eles amaram muito.”
Apesar da iniciativa incrível de Melissa, os desafios foram inevitáveis. Pelo fato da comunidade não ter projetos relacionados ao audiovisual, inicialmente as fotografias geraram estranhamento aos moradores. “É um desafio construir uma relação de confiança com os moradores, mostrar pra todo mundo que tô fazendo algo com a comunidade por um bom motivo, que não é nada de errado. E aí o risco de fazer isso é grande porque qualquer um pode cismar e inventar qualquer coisa pra pôr na minha conta. Mas até agora têm dado tudo certo, a galera tá abraçando e tá se vendo nesse trabalho.”
O atual cenário de pandemia do novo coronavírus também dificultou na produção, que ficou complicada devido aos riscos de exposição ao vírus. Contudo, Melissa continuou fazendo fotografia com todos os cuidados necessários. “A gente já vive aglomerado mesmo em isolamento, são condições muito ruins. É demais querer que o morador siga o distanciamento social nesse contexto. Mas, por outro lado, também me motivou a fazer mais. Ajudei a montar cesta básica pra doar pros moradores, fiz parte de algumas iniciativas aqui registrando e ajudando a levar esses alimentos pra comunidade, divulguei na internet pra galera contribuir… Foi bonzão fotografar esses momentos, tirar algo bom desse momento que tá complicado pra todo mundo”, conta.