Dinheiro e pandemia: entre o real e o digital na periferia

Foto: Thiago Lima / Voz das Comunidades

Vivemos um novo mundo. Essa frase, dita há alguns anos, pode ter inúmeras interpretações e ser levada para diversas áreas da nossa vida. No atual momento, a mudança se dá pela pandemia do Covid-19, que gerou impactos imensos na vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Uma dessas mudanças é a necessidade de evitarmos contato com um grande número de pessoas, ou seja, a prática do isolamento social. Entretanto, há algo que continua tendo contato com muita gente e circula livremente: notas e moedas. E é aí que um grande perigo se apresenta: o novo coronavírus permanece vivo no papel por até três dias, podendo contaminar todos que tiverem contato com aquele dinheiro, botando em risco a vida de milhares de pessoas.

Frequentemente ouvimos falarem que “vivemos a Era Digital”, cercado por telas, eletroeletrônicos, aparelhos smart etc. Com o dinheiro não é diferente e temos muitas opções para diminuir a circulação de notas e moedas contaminadas. O ato de pagar e receber nada mais é do que uma troca. Tanto que, na história do Brasil, já tivemos o algodão, açúcar e fumo como formas de pagamento. O papel ou metal que hoje trocamos não existiu sempre e pode ter a circulação diminuída neste momento de pandemia, sendo substituído por cartões, aplicativos e outras formas de pagamento.

Teste 3

No estabelecimento Yaki Rio, localizado no Alto da Boa Vista, métodos de pagamento sem ser em dinheiro físico estão sendo motivados durante o isolamento social. Os clientes que pagam com cartão têm desconto na compra. Segundo Patrick Ramos, um dos sócios da marca, eles enxergaram a grande exposição ao vírus e precisavam de uma solução para trazer mais segurança para funcionários e clientes. 

Precisávamos de alguma maneira de reagir ao coronavírus sem prejudicar nossa saúde ou trabalho, acho que esse foi o primeiro ponto. A gente limpa as máquinas toda vez que voltam de uma entrega, não custa nada. Cédulas são sujas por si só, não tem saída. Nós sempre recebemos mais pagamentos via cartão e esse meio tem continuado a ser o mais utilizado. E boa parte dos clientes, sem perguntarmos, justificam a escolha pelo cartão por conta da pandemia. Está rolando uma conscientização nesse âmbito. A gente tenta aderir às recomendações. A demanda está muito maior no delivery”, afirma Patrick.

Falta de alerta nas favelas

A realidade no contexto geral da favela ainda é muito diferente do vivenciado no Yaki Rio. A população periférica, em sua grande maioria, realiza compras com notas e moedas. Bruno Odacham, morador do Jacaré, segue com a necessidade de ir ao mercado e farmácia e tenta diversificar a forma de pagamento. “No mercado eu uso o cartão alimentação, mas na farmácia eu uso o dinheiro. O que eu faço para evitar o contágio nesses estabelecimentos é usar luvas. Ainda vejo o dinheiro na favela circulando normalmente. As pessoas não perceberam que o dinheiro é um objeto comum que pode contaminar, devido a essa transmissão de mão em mão. Acho que falta essa informação, que é muito necessária para prevenir ainda mais casos”, afirma Bruno.

Países tomam medidas mais duras

Esse alerta sobre a contaminação através de notas e moedas acendeu mais cedo nos países asiáticos, como China e Coreia do Sul. Os governos dos dois países orientais resolveu agir de maneira mais severa no combate a esse tipo de transmissão do Covid-19 e isolou as notas para desinfetar com luz ultravioleta e altas temperaturas, deixando-as fora de circulação por até 14 dias. Tais medidas mostram que devemos repensar a forma que lidamos com o dinheiro. Com tantas inovações tecnológicas, diversos bancos digitais e formas de pagamento que previnem o contato neste momento de pandemia, a nossa parte é validar e tornar comum estes métodos.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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