#COVID19NasFavelas: Prefeitura do Rio precisa levar água pra favela

Alemão. Foto: bento Fábio/ Coletivo Papo Rento
Alemão. Foto: bento Fábio/ Coletivo Papo Rento

O novo Coronavírus chegou no Brasil. O mundo todo sabia que iria chegar a cada país, nenhum governante tava desavisado, mesmo os negacionistas da Ciência, sociopatas. E aqui, com grande parcela da população já sem acesso à políticas públicas essenciais e a serviços públicos básicos, o desafio maior é proteger famílias que moram em favelas e periferias. O que a prefeitura do Rio pode fazer já? Liberar as unidades municipais de saúde e/ou escolas pra fornecer água potável aos moradores da cidade com pouco ou nenhum acesso. 

A logística dessa operação, de fornecer água pra quem mais precisa, poderia ser feita por agentes da Guarda Municipal, por exemplo, com a devida proteção individual. As unidades municipais de saúde são órgãos públicos que vão ficar abertos durante a pandemia, por isso poderiam ser pontos de distribuição de água potável pras famílias que precisam. 

Escolas municipais também poderiam ser pontos de distribuição de água pela prefeitura do Rio. Com as aulas suspensas, não vai ter consumo de água nas escolas, então, não tem custo a mais pra isso. A água que não vai ser consumida nas escolas pode servir pra abastecer moradores sem acesso nessa situação grave em que lavar as mãos é fundamental. Nesse momento, é até um tipo de desperdício órgãos públicos com abastecimento normal de água potável estarem sem consumo e sem destinação dessa água a segmentos vulneráveis da população.

Teste 3

É difícil, só que não é impossível, especialmente quando se quer mesmo “cuidar das pessoas”. E o que a gente não pode esquecer é que cidadãos pagam impostos, ou seja, impostos que a gente paga são usados pra custear a administração pública e a manutenção de seus órgãos. A água em unidades públicas de saúde e em escolas públicas é paga pela sociedade através dos impostos recolhidos. Agora é a hora da prefeitura repartir a água, paga pela gente, com quem não tem acesso e necessita ter.

Apelo de ativistas de territórios populares é chamado pra ação

Bubba Aguiar descreve precisamente a realidade que políticos eleitos e a pequena parcela privilegiada da sociedade ignoram solenemente: “Em ruas tem certo horário para ligar a bomba de água, e não tem água o dia inteiro. Às vezes a água está fraca e nem a bomba dá jeito. As pessoas acabam sendo infectadas com doenças por conta da falta de saneamento básico ou de ele ser defasado. E aí surge mais essa preocupação do ter ou não ter álcool em gel em casa. Mas como ter se não tinha dinheiro nem pra comprar água mineral?”. Clica aqui pra ler a matéria toda de Lola Ferreira pro Uol.

Já no Twitter, Jota Marques esclarece didaticamente as dificuldades em territórios populares diante das recomendações das autoridades. Não são poucas, não são invenção, não são exagero, é o cotidiano real. Nem todas as famílias têm água, sabão, álcool em gel, alimentação adequada, residência com estrutura para repouso, quartos e espaço suficientes para todos os membros [isolamento é impossível]. O apelo dele, e de ativistas de direitos humanos de favelas e periferias, é um chamado pra ação e não pode ficar sem eco: “as autoridades desse país, ao lado dos empresários que mandam e desmandam em nossa economia, precisam pensar rapidamente em soluções e ações antes que não tenham mais controle do que pode acontecer em pouquíssimos dias!”. Pra quem ainda não segue o Jota Marques, cola aqui pra ver a sequência dele e já passa a acompanhar.

Impossível lavar mãos e usar álcool gel sem acesso nem dinheiro sobrando

As duas principais formas de prevenção de contágio pelo Coronavírus, e de transmissão, são lavar bem as mãos e usar álcool gel [quando não dá pra lavar]. Mas, como lavar as mãos sem acesso à água? Não tem como. Assim como não tem jeito de usar álcool gel quando não tem dinheiro sobrando, ainda mais com empresários aproveitando um problema grave pra faturar mais aumentando o preço do produto. O Procon vai investigar os abusos, a gente denuncia pelo 1746. 

Autoridades precisam agir de forma responsável pra chegar na população mais vulnerável por falta de acesso e recursos com, no mínimo, a água potável. Em todo o mundo, em diferentes momentos da história da humanidade, é em situações graves, como guerras ou pandemias, que a solidariedade faz a diferença pra sobrevivência. A prefeitura do Rio viabilizar acesso à água a quem mais necessita seria uma decisão solidária digna da gravidade que o Coronavírus impõe a todos e da urgência em proteger os mais vulneráveis.

Uma das medidas mais surpreendentes da prefeitura do Rio foi a manutenção de servir merenda aos alunos mesmo com as escolas municipais fechadas. A merenda escolar é muitas vezes a única refeição de crianças brasileiras. No entanto, a justiça proibiu que a merenda seja servida  nas escolas municipais a pedido do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, por causa dos riscos pros profissionais. Há formas de fazer com segurança? Sim. Infelizmente, juízes privilegiados com auxílios pra moradia e até livros, com salários altos o suficiente pra jamais faltar comida em suas casas, são incapazes de compreender o alcance social de uma decisão como a de servir merenda pra crianças que dependem da alimentação na escola. A alternativa seria a prefeitura distribuir os alimentos às famílias dos alunos em vez de servir a merenda, água potável poderia ser entregue junto. 

Rennan Leta [@rennanleta], colunista do Voz das Comunidades, preparou uma lista com alguns sites e pessoas que tão divulgando informações oficiais e confiáveis sobre o novo Coronavírus. Confere aqui e aproveita pra mandar pras amizades. Ah, e digita nas buscas do Google e das redes socias #COVID19NasFavelas pra saber mais sobre o Coronavírus e a Covid-19 com a visão de interesse dos moradores de favelas e periferias

Foto: Bento Fábio / Coletivo Papo Reto

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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