Conheça Jaynashe e My, a dupla feminina de rappers que compõe ABRONCA

Moradoras do Vidigal, as artistas já se apresentaram no Rock in Rio e, com apenas 14 anos, fizeram uma turnê internacional

Jaynashe e My metem “ABRONCA” desde que eram as “Pearls Negras”, ou melhor, as “Pérolas Negras”. Segue o fio para entender. Aos 15 anos de idade, na formação antiga do trio Jay, My e Slick, elas fizeram uma turnê internacional, passando por vários países da Europa. Além disso, já enquanto dupla, se apresentaram no palco do Espaço Favela, no Rock in Rio 2019. Hoje, aos 24 anos de idade e com 10 anos de carreira no rap, elas enfatizam que “não há um plano B para além da arte e desistir não é uma opção”.

Jay entrou no Grupo de Teatro Nós do Morro aos 6 anos, e My aos 8. Elas só se conheciam de vista no morro, até que começaram a frequentar uma oficina de rima na garagem do teatro, ambas com 12 anos. “A My chegou e falou assim: ‘Você não quer entrar para o nosso grupo de rap?!”’, conta Jaynashe, que teve que passar por um processo seletivo para se juntar às meninas (My, Slick e sua irmã Andressa). “Eu tive que dançar, cantar, fazer tudo que eu sabia”, relembrou, rindo. My interrompe, também rindo à beça: “Não sei nem por que rolou isso! Bem assim: quer entrar? Vai ter que fazer por merecer!”. 

As Pérolas Negras estavam formadas. Neste momento já era o trio que permaneceu até o início da ABRONCA. Aos 14 anos, as meninas fizeram um show no Sarau do Alemão, no Complexo do Alemão, o que mudou tudo! “Tinham dois gringos assistindo a gente. Muita coincidência, porque não tinha muita gente lá”, relembra My. 

Teste 3

Os tais gringos, David e Yan, eram dois produtores londrinos da Bolabo Records, que montaram um estúdio no Vidigal para que elas pudessem gravar. E, daí, nasceu a mixtape “Biggie Apple”, que levou as “Pérolas Negras” para uma turnê na Europa, quando elas tinham 15 anos. Foi, então, nesse momento, que elas viraram as “Pearls Negras”. Simplesmente porque no exterior ninguém conseguia pronunciar a palavra “pérolas”. 

“A gente era tão nova e já estava com essa potência e responsabilidade tão grandes de estar em um lugar longe representando nossa comunidade. Foi muito importante para a gente! Fizemos vários tipos de entrevistas, um comercial da C&A, enfim… muita coisa muito bacana para nossa carreira”, relataram. 

Depois, Jay, My e Slick decidiram que mudariam o nome com o objetivo de dar uma identidade que batesse com a fase atual delas. Mais velhas e com uma outra visão do que realmente queriam até mesmo para público, ABRONCA veio com tudo. Elas lançaram “Gangsta”, “Drinks” e “Chegando de Assalto”, que juntos somam 6 milhões de visualizações no Youtube. E, assim, fecharam com a Warner Music Brasil. 

ABRONCA ficou 1 ano com a gravadora e agora estão de forma independente. Somente Jay e My, junto da empresária Ana e a Ubuntu Produções, além de serem parte do coletivo FABRICAO$mob, composto por 11 artistas do Vidigal. Na formação atual do grupo enquanto dupla, as artistas já participaram do Rock in Rio em 2019 e esse ano prometem: vem álbum aí!

Jaynashe

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Como boa cria dos anos 2000, Jaynashe teve como suas primeiras referências musicais artistas pretas da gringa, como Ciara e Beyoncé, que estavam sempre presentes no DVD “HIP HOP VIDEO TRAXX”. Quem viveu, sabe! Ela conta que elas eram sua inspiração e que amava ficar assistindo às artistas dançando e cantando. “Isso para mim era ser uma artista completa! Tanto que a gente tenta seguir essa mesma linha”, diz. 

Filha da diarista Márcia e do balconista Luiz Cláudio, Jaynashe é nascida e criada no Morro do Vidigal. E, assim como várias crianças da comunidade, entrou no Grupo de Teatro Nós do Morro ainda criança, com 6 anos de idade. Aos 12, participando da oficina de rima na garagem do teatro, ela iniciou um novo hobby: compor. Na verdade, Jay já escrevia. “Sempre escrevi poesia na escola. Eu recitava poesia, então a escrita já estava presente em mim. Minha primeira musiquinha foi a ‘Pensando em Você’, super bobinha, sobre o fim de um relacionamento e virou um de nossos hits”, explica. Inclusive, o hit em questão que foi o primeiro contato da artista com composição musical tem quase 1 milhão de visualizações no Youtube.

My 

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Filha de peixe, peixinha é? No caso de My, sim, mas com algumas alterações na rota. My cresceu com uma referência musical dentro de casa: seu pai, Tadio, que é cearense assim como sua mãe, Íris, que trabalha como diarista. Tadio é músico, sambista, percussionista e compositor. Mas, a artista, que é nascida e criada no Vidigal, conta que mesmo com essa presença desde pequenininha, nunca passou pela mente compor música, muito menos cantar. “Meu contato com o rap em si veio através do Nós do Morro. Foi o primeiro contato que eu tive para entender que eu poderia me encaixar nesse universo”, diz, ao relembrar de quando foi apresentada à vivência das rimas. E, foi aí que ela pensou: “Caramba, acho que posso fazer isso! Posso ser boa nisso!”, aos 12 anos de idade, assim como sua dupla da ABRONCA. A fanbase agradece! My é uma eterna fã do MC Marechal, rapper niteroiense que a inspira por sua lírica e forma de escrever. Ela conta que, além dele, os quatro nomes que mais ouvia como base naquela época de oficina de rima eram: Racionais MCs, MV Bill, Kmila CDD e Flora Matos. Dá para entender agora o peso, né?!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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