O Complexo do Alemão vivia um momento emblemático na manhã de sexta feira, 17 de abril. Em três localidades diferentes eram realizadas as reconstituições das mortes de três vitimas da guerra que o Complexo do Alemão viveu nas últimas semanas.
Logo pela manhã, becos e vielas eram tomados por homens de preto com armas de longo alcance, assegurando os locais dos crimes para a chegada da Divisão de Homicídios. Misturados com o forte barulho dos helicópteros das emissoras de TV, que sobrevoavam os céus do Alemão, se ouvia os choros dos parentes das vítimas, que após algum tempo fora do local, retornavam à cena de um crime.
Teresinha Maria de Jesus, recebeu nossa equipe em sua casa após uma semana fora do Rio. Pela primeira vez após a morte de seu filho, Eduardo de Jesus, de apenas 10 anos, atingido por um tiro na cabeça no dia 02 de abril, ela colocava os pés dentro de casa, onde tudo aconteceu.
Teste 3
Emocionada, mas com sorriso no rosto, dona Teresinha lembrou das brincadeiras que tinha com Eduardo e mostrou para a nossa equipe as roupas, brinquedos e o quarto do menino. “Ele era um menino alegre. Sempre sorrindo, ele que arrumava suas roupas. Ainda está tudo do jeito que ele deixou”, mostrou. Cerca de cento e vinte policiais, oito delegados e dez peritos, realizaram as três reconstituições no Alemão. “É muito triste, muita dor, mas eu tenho que lutar e eu vou lutar”, desabafou a mãe de Eduardo, quando perguntada sobre o que sentia ao ir pela primeira vez em casa após a morte de seu filho.
Já em outra parte do Alemão, aconteciam outras duas reconstituições, dessa vez, das mortes do Capitão Uanderson Manoel da Silva, 34 anos, morto em setembro de 2014, em um dos becos do alto do Morro da Alvorada, e da dona Elizabeth Moura, de 41 anos, atingida por um tiro dentro de sua casa. Com parte das vias de acesso fechadas pela polícia, muitos populares olhavam assustados para toda aquela cena.
“Ver os policiais realizarem a mesma cena da morte da dona Elizabeth várias vezes foi de cortar o coração. Me fez lembrar daquele dia marcante, nunca vou esquecer”, declarou o eletricista Ricardo Santos Ferreira, de 32 anos, morador local. Ricardo contou que voltava do trabalho quando viu o resgate improvisado por vizinhos para socorrer Elizabeth e sua filha, Maynara Moura, de 14 anos, também baleada dentro de casa, com um tiro no braço. “É muito triste, estou me preparando psicologicamente para tudo isso. Que tormento”, postou Maynara em seu perfil no Facebook, sobre a reconstituição da morte de sua mãe.
Há alguns metros dali era realizada a reconstituição da morte do Capitão Uanderson Manoel, morto em uma troca de tiros em um dos becos da comunidade.
Segundo a Defensoria Pública, o Governo do Estado do Rio de Janeiro assumiu publicamente a culpa pelas mortes de Eduardo de Jesus e da Dona Elizabeth Moura, baleados e mortos no Alemão, e tão logo encerradas as investigações dos casos, os familiares serão indenizados, evitando assim, uma briga longa na justiça, o que traria mais sofrimento para as famílias.