Promessa do Flamengo sai do Complexo do Alemão

Aos 15 anos, o jovem Caio Rangel é considerado a principal promessa da categoria Infantil do Flamengo. Meia de origem, o garoto vem conquistando admiradores a cada jogo pelo clube e já recebe orientações para seguir na carreira de jogador de futebol.  A história do menino não é diferente de tantos outros que sonham com o estrelato proporcionado pelo esporte mais popular do mundo.

De origem pobre, Caio se mudou há dois meses do Complexo do Alemão, região ocupada no ano passado pelas forças de segurança do Rio de Janeiro. Foi na maior comunidade da cidade que ele deu os primeiros chutes na bola e viu cenas que não deseja reviver após abraçar de vez o sonho de jogar futebol.

“Já vi amigos usando drogas. Isso é muito triste. O meu melhor amigo se separou de mim por causa da droga, nunca mais falei com ele. Não quero ver isso de novo. O futebol ajuda a ter essa disciplina. Teve dia que não vim treinar durante a ocupação. A situação estava muito grave lá. Tenho ido aos fins de semana visitar alguns amigos de vez em quando. Mas depois que mudei para a Taquara as coisas estão melhorando aos poucos”, afirmou Caio Rangel ao UOL Esporte, após um treinamento no Ninho do Urubu.

Teste 3

A mudança de bairro e mentalidade produz transformações intensas na vida de um menino de 15 anos. Caio não abandona a escola e nem sequer os treinamentos para atingir o sonho de se profissionalizar com a camisa do Flamengo. Mas a luta diária o faz abrir mão de atividades comuns na sua idade.

“Sinto muita falta de soltar pipa e curtir os meus amigos, sair com eles. Também estudo no período noturno e treino de manhã. Encaro como um trabalho mesmo, o futebol é a profissão que escolhi. Os meus pais (Roberto e Adenilda) mandam dormir cedo para não acordar cansado. Mas faço questão de ir ao colégio, estou no 1º ano do Ensino Médio. Procuro levar a sério, acho muito importante aprender”, disse.

[saiba]A entrevista da semana passada foi apenas a terceira na curta carreira do prodígio meia. Caio Rangel, que acaba de retornar de um torneio com a seleção brasileira sub-15, onde marcou dois gols, gosta de conversar com repórteres e falar o que pensa. Uma autenticidade que planeja manter durante a carreira e pode ser percebida quando o mesmo comenta sobre o seu estilo de jogo.

“Sou abusado mesmo em campo. Procuro mostrar o que sei. Aí eu faço. Meu estilo é ler o jogo e procurar dar bons passes para os companheiros. Mas quando a bola está no meu pé parto para cima. Procuro passar, mas também fazer gol”, explicou.

Em diversas oportunidades, Caio está treinando no Ninho do Urubu no mesmo horário dos profissionais. Fã de Ronaldinho, Neymar e Zico, ele mal pode observar o camisa 10 do Flamengo nos treinamentos. Como norma da categoria é proibido acompanhar o treino da equipe profissional. Para um menino de 15 anos, trabalhar no mesmo local do ídolo e até hoje não ter trocado nem sequer uma palavra com Ronaldinho deve ser doloroso o bastante para desanimá-lo. Mesmo assim, Caio mira o futuro e deposita nos pais a grande esperança de vencer no esporte.

“Eles conversam muito comigo. Se faço um jogo ruim, eles pegam no pé. Se jogo bem, falam do mesmo jeito. Cobram muito. Não faltam nenhuma partida e passam muita força. Procuro me espelhar nisso. Quero chegar ao profissional na hora certa. Mas vou seguir trabalhando para realizar o meu sonho”, ponderou o jovem, que antes de chegar ao Flamengo passou por Pavunense, Olaria, e recebeu um presente inesperado na semana passada.

“Meus amigos do Complexo fizeram uma visita surpresa na minha casa nova quando voltei da seleção. Fiquei muito emocionado. Fizemos um churrasco. Até chorei. Tinha mais de 10 pessoas. Essas coisas me animam a seguir a carreira”, encerrou o jogador, já patrocinado pela Adidas e assessorado pela BR Foot, empresa de agenciamento esportivo, com auxílio da Traffic.

Fonte: UOL ESPORTE

Compartilhe este post com seus amigos

Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram
WhatsApp

EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

Contato:
[email protected]