

A senhora morou no Complexo do Alemão. Teve uma infância difícil?
GRAÇA: Difícil é relativo. A gente nunca deixou de estudar, nunca sentiu fome. Sempre moramos em casa muito humilde, simplesinha, mas limpa, radiante e com uma mãe muito amorosa. Depois, mudamos para um apartamento pequeno na Ilha do Governador.

A senhora foi catadora de papel?
GRAÇA: Não é tão verdadeiro… Meu primeiro trabalho de carteira assinada foi como estagiária na Petrobras. Dei aula de inglês, matemática. Quando morei no Morro do Adeus, fazia um trabalho mais legal. Eu escrevia e lia cartas para as pessoas, quando tinha 8, 9 anos. E ganhava uma moedinha, comprava uma borracha. Fazia porque me davam um agrado. Com uns amigos, catávamos coisas, sim: lata, jornal, coisas para vender. Conseguia um dinheirinho para encapar um caderno, comprar uma lavanda para minha mãe.
Que conselho a senhora daria para outras pessoas humildes que hoje estão lá?
GRAÇA: Primeiro é querer estudar. Tem que ter aquela força interior, essa tem que vir dos seus pais, ou da gente mesmo. Tem que ter coragem. Quantas pancadas eu tomo? Preconceito, nunca senti, porque enfrento.
Por Ramona Ordoñez ([email protected]) | Agência O Globo








