A jovem Marcelle, de 15 anos, acumula prêmios, inclusive de melhor jogadora em quadra
A jovem moradora da comunidade da Formiga, Marcelle de Arruda Mattos da Silva, de 15 anos, joga vôlei há cinco anos pelo Tijuca Tênis Clube, mas tudo começou com uma brincadeira. Até então Marcelle jogava futebol, foi fazer teste em outro clube – o Salgueiro –, mas na ocasião o técnico não foi. Como estava acontecendo aula de vôlei na quadra ao lado, e viu umas meninas treinando, resolveu brincar junto. Gostou, disse à mãe que queria fazer isso e, desde então, o vôlei não saiu de sua vida. Um dia, em uma competição, um técnico de outro me enxergou seu potencial e fez o convite para fazer um teste no Tijuca. Ela está no clube até hoje, inclusive com bolsa.
Pelo visto a aposta do olheiro foi certeira. Ela já ganhou algumas premiações, dentre elas a de melhor jogadora em 2015 no campeonato estadual do Rio de Janeiro – resultado do acúmulo de votos durante todos os jogos no ano. Em 2017, na Taça Paraná, em Curitiba, ganhou o título de melhor jogadora em quadra. Nunca é fácil: na Taça Paraná, por exemplo, os próprios pais que se mobilizaram para que as garotas fossem jogar. Fizeram rifa, almoço, festas, tudo para angariar recursos para a viagem. Maria Lucélia, mãe de Marcelle, confirma: “é muito gratificante ver que a dedicação dela vem sendo reconhecida”.
Teste 3
A rotina de Marcelle é puxada: ela sai muito cedo de casa e só volta à noite; tem que conciliar o treino em duas categorias – infantil e juvenil (sub 15 e sub 17, respectivamente) –, além dos estudos. De segunda a sexta-feira ela sai de casa às 6:30 e chega por volta de 21:30. Ela almoça e janta no clube. Às terças-feiras, além do clube, tem o treino no colégio, onde ela também tem bolsa, por ser atleta. Pelo me do colégio, já fez viagens junto com a equipe para competições até em outros estados. Nos fins de semana, ela tem treino de vôlei de praia – por opção, para ajudar no vôlei de quadra. Ela treina sábado e domingo na Barra, na escolinha do técnico Bernardinho. Já ganhou destaque jogando nessa categoria em 2016, junto com a sua dupla: ganharam o primeiro lugar no ranking de melhores do ano. Na praia, assim como na quadra, ela também disputa nas categorias sub 15 e sub 17.
O técnico de Marcelle sempre a incentivou a se inspirar nas meninas das categorias acima. Uma dessas jogadoras é a Fabi, que tem uma história parecida com a dela. “Ela é baixa e, desde o juvenil, jogava de ponteiro. Foi campeã em várias seleções, já foi campeã brasileira de ponta e agora é líbero. E meu técnico diz que sou parecida com ela: agora eu jogo de ponta, mas no futuro ele pede para eu jogar de líbero”. Isso se deve ao fato de que ela tem 1,60 de altura, enquanto a jogadora mais baixa do me tem 1,70. Líbero é a posição em quadra que fica no fundo: não ataca, só defende.
Para Marcelle, o apoio que teve dos pais foi fundamental para começar a trilhar o caminho no esporte. Sua mãe, Maria Lucélia, conta: “Ela se apaixonou pelo vôlei, faz porque gosta. Muito dedicada. Sempre que posso estou junto, o pai dela também”. Isso tem especial valor quando lembramos que o investimento em projetos sociais na área do esporte ainda é escasso. Na comunidade da Formiga, na época em que Marcelle começou, não havia nem aula de vôlei. Como forma de retribuir as oportunidades que conseguiu pelo esforço, Marcelle pensa em ajudar muita gente em um futuro próximo. “Ajudar como me ajudaram, penso fazer isso que fizeram comigo, me ajudaram a entrar em um lugar que tivesse condições para ser o que vai ser (e já está sendo). Tenho muita vontade de ajudar as pessoas. Porque hoje em dia ainda não tenho condições, mas quero abrir as portas do esporte, como fizeram comigo”.
Há cinco anos, Marcelle começou sua trajetória no vôlei, e daqui a mais cinco anos ela se imagina em um local bem claro: jogando na seleção brasileira, “trazendo muito orgulho para meus pais”. Segundo ela, o vôlei é sua vida, até porque “sem o vôlei, não teria tudo o que já tem hoje: o colégio, as amizades, um futuro”.