Veja como está Felipe Paulino, cria do Vidigal, que, aos 8 anos, atuou no filme “Cidade de Deus”

O ator, que está com 28 anos, hoje também escreve poesias e letras de trap, além de trabalhar como mototáxi
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

20 anos após o filme “Cidade de Deus”, o menino que teve que escolher entre levar um tiro “na mão ou no pé” de Zé Pequeno (Leandro Firmino), na infância chamado de Dadinho, interpretado por Douglas Silva, já está com 28 anos. Pai da Sophia, de 10 anos, Felipe Paulino da Silva é nascido e criado no Morro do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Na cena, ele tem o pé alvejado pelo antagonista e conta que o choro foi de verdade. “Tive uma preparação bem rigorosa. Fátima Toledo, né?! É uma preparadora de elenco conhecida por tirar água de pedra. Ela é bem rígida e trabalha com a memória emotiva. Na minha preparação, me colocavam em um quarto escuro e o personagem do Leandro Firmino aparecia com uma arma falando que ia me matar. E eu novinho! Também não almoçava do lado dele; nos colocavam separados porque eu não podia ver ele fora das cenas. Então, quando eu vi o Zé Pequeno, entrei em pânico!”, explica. Felipe conta que só conseguiu ver esta cena aos 18 anos. 

Cena do filme Cidade de Deus, em que o personagem de Felipe Paulino leva um tiro no pé 
Foto: Reprodução

Ele relembra que, aos 7 anos de idade, foi ao teatro pela primeira vez. “Assisti uma peça em que rolava uma cena de beijo. Aí, eu falei: ‘caraca, quero beijar igual ele beijou’”, brinca, ao recordar de como iniciou seu desejo de atuar. O único pré-requisito era saber ler, o que ele já sabia. Então, entrou para o Grupo de Teatro Nós do Morro, que existe no Vidigal desde a década de 80.

Teste 3

“Aos 8, fui fazer o teste para o ‘Cidade de Deus’. Eles chamaram todos os atores do Nós do Morro para fazer a audição, daí eu passei. Meu pai soube primeiro que fui aprovado, mas eu já estava otimista de que iria fazer o filme”, afirma. Felipe comenta que, para ele, participar de um longa-metragem aos 8 anos de idade era uma grande brincadeira. “Eu estava conhecendo o mundo da arte e adorava! Só não gostava de acordar cedo. Tinha que acordar às 5h30 da manhã para ir até a Cidade Alta (favela localizada em Cordovil, Zona Norte, onde foi de fato gravado o filme)”.

 Felipe Paulino diz que o Vidigal é sua casa
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Hoje, aos 28 anos, o ator coleciona algumas participações na TV brasileira. “Além de Cidade de Deus, fiz algumas participações na Globo, como ‘Natal no Sítio do Pica-Pau Amarelo’, ao lado de Douglas Silva e Darlan Cunha, ‘Da Cor do Pecado’, ‘Malhação’, entre outros, e também alguns comerciais. Ele confessa que seu maior amor é o teatro, por sentir que existe mais liberdade para criação. Mas, seu diretor favorito é o Tim Burton, pela sua vertente artística bem abstrata. No entanto, com a pandemia, a carreira de ator de Felipe, assim como de diversos artistas no Brasil, foi prejudicada e atualmente está trabalhando como moto táxi. 

Outras obras em que Felipe atuou foram os filmes “Jonas” e “Picolé, Pintinho e Pipa”, a série “Cidade dos Homens”, e também “Cidade de Deus – 10 Anos Depois”. Ele diz que sonha em, um dia, fazer comédia, que é seu gênero favorito.

Filho do cearense José Wanderley e da paraibana Maria Jane, o carioca diz que considera o Vidigal o melhor lugar do mundo. “Aqui é minha casa, eu conheço todo mundo. Entre os Estados Unidos e o Vidigal, eu escolho o Vidigal. Não tenho vontade de sair daqui. Os turistas vêm visitar e não querem mais voltar!”, se orgulha. Também se orgulha ao falar de sua filha Sophia, que aos 10 anos já é tiktoker. “Ela se amarra muito, sabe todas as dancinhas! Com certeza vai seguir o caminho da arte”, diz.

Felipe Paulino, além de atuar, gosta de compor também. Ainda sem nenhum lançamento na pista, mas já com apresentação em rodas de Slam e com o intuito de fazer a carreira musical acontecer, ele escreve, desde os 17 anos, algumas poesias e letras de Rap na vertente do trap. Algumas de suas referências atuais são os artistas Djonga, Teto e Matuê. Mas, também, não deixa de lado os grandes nomes das antigas, como Racionais MC e Sabotage. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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