Tradição do subúrbio, turmas de bate-bola despertam curiosidade no carnaval

Considerado patrimônio cultural, o icônico personagem representa a resistência do carnaval nas zonas norte e oeste da cidade
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

O carnaval do Rio de Janeiro, mundialmente conhecido, carrega uma cultura popular muito forte, formada por personagens icônicos da folia. Pierrô, Colombina e Arlequim são figuras marcantes da festa, ensaiando um trio amoroso em meio a cores e confetes. Entretanto, um quarto personagem rouba a cena diante da festa do Rio de Janeiro. Presente em várias localidades do subúrbio carioca, a figura do bate-bola reina nas ruas da cidade, chamando a atenção de todos por onde passa.

O bate-bola é uma tradição amplamente difundida nas zonas norte e oeste da cidade do Rio de Janeiro. Distribuídos em diversos grupos, são caracterizados pelas fantasias temáticas e coloridas, máscaras que aparentam visões diferentes sobre a identidade de palhaços e, principalmente, o bastão amarrado a uma bola de borracha, que expressa o nome da figura icônica.

Os grupos de bate-bola confeccionam suas próprias fantasias e cada ano é um tema diferente. Com grupos de 15 a 20 integrantes, eles realizam reuniões frequentes, onde todos debatem questões a respeito dos dias da folia. Além da fantasia, eles compram foguetes para as saídas e organizam o transporte para diferentes localidades.

As roupas utilizadas pelos bate-bolas
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

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Em Inhaúma, no Complexo do Alemão, “Os Pecadores” é um dos grupos de destaque que brinca na folia do Carnaval. À frente de 20 integrantes do bate-bola, o autônomo Mauro Vieira Reis, de 60 anos, e a professora Ana Cláudia Fernandes Siqueira, de 52 anos, divertem-se quando relembram de vários momentos ao longo de 12 anos da turma e o quanto é significativo a festa dos Pecadores na região. “Eu que comecei com as turmas de bate-bola por aqui. E eu fico muito orgulhoso que o nosso grupo não tem rivalidade com ninguém. Temos várias turmas aqui nos bairros vizinhos e isso me faz muito feliz porque a tradição vai continuar. Uma hora eu vou parar, mas eu sei que a festa dos bate-bola vai continuar”, relata Mauro.

Um dos bate-bola
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Inhaúma não tinha uma turma de bate-bola até a chegada dos Pecadores. Eles foram os primeiros a saírem às ruas do bairro para celebrar a tradição do carnaval suburbano. Despertando curiosidades na vizinhança, as pessoas se aglomeravam nas saídas da turma, esperando pela fantasia e pelo tema do ano e Ana destaca o empenho do grupo na produção e confecção do grupo. “As pessoas ficavam esperando pra ver com qual roupa a gente ia sair de bate-bola. Trabalhamos bastante pra sair um resultado bem bonito. Elaboramos o desenho, o tema, vamos estudando como vai ser a fantasia, fazemos reuniões, ouvimos as opiniões dos outros componentes, mas quem bate o martelo é eu e o Mauro”.

Sobre o processo de confecção da fantasia, Ana relata que costuma apenas costurar para o grupo e dispensa trabalhar em outros grupos. Mas ajuda quando necessário. “Para outros, eu quebro um galho quando precisam. Mas para costurar, só para Os Pecadores. E isso já me absorve demais. Às vezes vou dormir 1h, acordo às 7h e passo o dia inteiro na frente da máquina”. Ana fica à frente do processo de costura das fantasias e às vezes recebe ajuda do pessoal da vizinhança. Mas quem lidera o processo é ela. Já na pintura do material, a turma toda se reúne para ajudar”. Essa parte aí a gente divide. Quem não sabe, a gente ensina pra ajudar. É trabalhoso, mas eu adoro fazer isso!”

O casal reconhece que a tradição dos bate-bola são marcados por rivalidades entre vários grupos, além do histórico de brigas entre alguns. Por isso, Mauro tem um cuidado com o grupo e as saídas em época de festa. “Quem sai no bate-bola é quem frequenta a minha casa. A gente não coloca gente de fora porque, se vamos para um lugar longe e sai um tumulto, fica complicado. Então aqui é só família. Quase não coloco ninguém de fora”. 

Mas os Pecadores promovem somente a diversão. O casal se orgulha de não ter nenhuma rivalidade ao longo de 12 anos. Apenas promove festa e leva a alegria para diferentes pontos do Rio de Janeiro.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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