Tentativa de Pacificação do Complexo do Alemão completa dez anos

Megaoperação teve um cenário de guerra, com tanques invadindo o Alemão e helicópteros sobrevoando o conjunto de favelas durante todo o dia

Colaboração: Melissa Cannabrava e Rennan Leta
Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

O início do caos foi em Magé, município quase 60 km de distância do Conjunto de Favelas do Complexo do Alemão, na zona Norte da cidade do Rio. No dia 20 de novembro, homens armados causaram desespero por quem passava pela rodovia Rio-Teresópolis em uma tentativa de arrastão num dos trechos da BR-116, conhecida como Rio-Magé. Um motorista morreu. Durante diversos atos de violência organizada ao longo da semana, veículos foram incendiados e até o dia 27 de novembro outras 39 pessoas morreram e 200 foram detidas na cidade. Como resposta àquela onda de violência, o Governo do Estado do Rio de Janeiro decidiu intervir nas favelas do Complexo da Penha e Alemão. 

Arte: Raife Salles / Voz das Comunidades

Mesmo com a guerra acontecendo em vários pontos distintos da cidade, o governo associou todos os incidentes daquele momento aos conjuntos de favelas do Alemão e Penha. As operações para a ocupação contaram com força total do Estado: homens das polícias Militar, Civil e Federal, BOPE, Exército e até tanques de guerra foram utilizados. O conflito caiu na conta de moradores das comunidades, que tiveram suas casas invadidas, passaram dias sem aula, água e luz, sem poder exercer o direito de ir e vir por conta da violência generalizada na região.

Uma das cenas que marcou a tentativa de pacificação foi a de homens saindo do Complexo da Penha em direção ao Conjunto de favelas do Alemão. A cena foi destaque na mídia nacional e internacional, colocando ainda mais em evidência a guerra instaurada nas favelas do Rio de Janeiro. 

Foto: Reprodução

Teste 3

Apesar de somente no dia 25 se confirmar a vinda das forças armadas para o Complexo do Alemão, o clima já era de tensão durante toda aquela semana. Escolas cancelando suas aulas, comércios fechados, e uma grande movimentação de viaturas policiais em torno da comunidade davam indícios de que algo maior aconteceria. Na manhã do dia 26 de novembro de 2010, uma quinta-feira, foi iniciada a ocupação do território do Alemão pelas forças policiais. Milhares de militares subiram o Complexo do Alemão simultaneamente por todas as suas entradas. Tanques de guerra, helicópteros blindados circulando sobre o conjunto de favelas do Alemão durante todo o dia.

2010: Subida da Alvorada, Complexo do Alemão. Foto: Reprodução

Após um sábado (27/11/2010) de muita tensão durante o dia na comunidade, a noite se iniciou com diversos tiroteios em algumas localidades do Complexo. E a angústia dos moradores durou até a manhã do dia seguinte. 

2020: Subida da Alvorada, Complexo do Alemão. Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

A manhã de 28 de novembro começou com a presença de centenas de agentes do governo. Forças de segurança, incluindo a Polícia Civil, encabeçada pela Coordenadoria de Recursos Especiais, a Polícia Militar pelo BOPE, a Polícia Federal pelo Comando de Operações Táticas e o Exército, através da Brigada Paraquedista, ocupando as ruas de acesso ao Complexo da Penha e Alemão. Aquele Domingo foi o Dia D da megaoperação, um cenário de guerra com tanques invadindo o Alemão e helicópteros sobrevoando o conjunto de favelas durante todo o dia. 

Foto: Reprodução

No início daquela tarde, as forças militares presentes no local hastearam, no alto do teleférico do Morro do Alemão, as bandeiras do Estado do Rio e do Brasil, simbolizando o fim com sucesso da ocupação do território. 

Assista “O som da guerra”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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