Preso por um 1 ano e 7 meses por um crime que não cometeu, o jovem Raphael Rogério de Andrade da Silva, de 21 anos, morador da Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, busca por meio da música seguir de cabeça erguida, após viver esse momento ruim em sua vida.
Um levantamento feito em junho deste ano, pelo jornal Folha de São Paulo, evidenciou que 84% dos casos de prisões de inocentes foram encontradas falhas em procedimentos de reconhecimento, como: pessoas presas no lugar de outras por erro de identificação; e prisões sem investigação, por vezes baseadas apenas na palavra de policiais.
Injustiça e perseguição
Uma dessas vítimas do sistema foi Raphael Rogério, ou como é conhecido no mundo da música MC Tio Phil. A saga do jovem da CDD foi bastante conturbada. Em 2018, ele havia sido acusado pela primeira vez por um roubo no bairro da Taquara. Mas, 2 meses depois, já em 2019, conseguiu comprovar a sua inocência. Na época Raphael dividia sua vida entre a música e o trabalho como camelo na própria comunidade da Cidade de Deus.
Teste 3
Contudo, no dia 2 de agosto de 2019, poucos dias após ter comprovado sua inocência, o jovem foi novamente convocado a aparecer na Delegacia do Tanque. Foi acusado novamente. Só que naquele momento foi por tentativa de homicídio, o que fez com que sua prisão fosse decretada. O artista ficou 1 ano e 7 meses preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, Bangu 10, até ter sua liberdade concedida no dia 18 de setembro de 2020. No entanto, foi retirada de novo, visto que o acusaram novamente de roubo. Porém, o suposto fato ocorreu enquanto Raphael estava preso.
Música como liberdade
No dia 16 de março de 2021, quase 7 meses depois, Raphael teve sua audiência marcada. Sobre este momento, o jovem músico conta algo incomum. “Antes de começar minha audiência, tinha um policial lá e ele falou assim pra mim ‘você é músico mesmo?’ Eu disse que sim. Ele mandou eu provar. Cantei uma das músicas que escrevi lá dentro. O juiz que ia me julgar escutou e, 10 minutos depois, veio a minha defensora e falou que eu tinha sido absolvido, sem nem ter entrado para audiência“. Ele deixou o presídio três dias depois.
Em outro momento, ele ainda fala sobre como foi o período no presídio. “O que não me matou, me deixou mais focado. Lá dentro, conversei com pessoas que são do crime de verdade. Todas que escutaram as músicas que fiz lá dentro, demonstraram algum sentimento, seja numa lágrima, num sorriso e etc. Montei de novo minha banca e continuo focado nas minhas músicas. Ainda sim, estou tendo que ir lá (presídio) assinar todos mês um papel”, comenta o MC sobre sua vida pós liberdade.
Atualmente em liberdade, o jovem MC mira usar as experiências de vida como combustível para suas novas músicas. ”É claro que seria o ódio né (sobre sentimento). Eu aprendi a repensar, mas, antes de qualquer coisa, largar tudo isso no que eu amo fazer (música). Não pretendo desistir de alcançar meu objetivo na música. Vou focar na minha carreira e na minha saúde mental e espiritual, pra que tudo dê certo”.