Filmar para mudar: formando lideranças jovens por meio do audiovisual e da tecnologia

No sábado (4), cem jovens celebraram a conclusão do curso do Favela.LAB
Foto: Davi Barcelos
Foto: Davi Barcelos

Por: Daniel Calarco, Thayná Ivo e Salvino Oliveira para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

No sábado (4), no Museu do Amanhã, cem jovens de favelas e periferias de todo o estado do Rio de Janeiro celebraram a conclusão do Favela.LAB, curso que combina audiovisual, tecnologia e liderança.

Idealizado pelo Observatório Internacional da Juventude, o programa visa democratizar o debate da Agenda 2030 dando suporte e apoio para lideranças comunitárias, de 18 a 29 anos, desenvolverem suas periferias e comunidades, criando realidades mais justas e pacíficas.

Teste 3

Com aulas de roteiro e edição a capacitações sobre democracia, mobilização social e políticas públicas, os participantes podem potencializar a voz de aproximadamente 4 milhões de jovens no Estado do Rio que desempenham um papel central na transformação de suas comunidades.

Dezenove curtas foram produzidos de agosto a novembro, denunciando e propondo respostas para as violações de direitos, como a violência urbana, o acesso à educação, a falta de trabalho e de renda, além da exclusão digital.

Não há a possibilidade de existir novas realidades que não sejam centradas nas perspectivas de quem vivencia os problemas e os territórios no dia a dia. Precisamos de mais juventudes com suporte, financiamento e apoio para participar da esfera do debate, proposição e ação do nível local ao internacional.

Os jovens das favelas consomem mais do que produzem narrativas nas redes, apesar de terem potencial para criar suas trajetórias. Com base nisso, o Favela.LAB é uma iniciativa que visa enfrentar e transformar essa realidade, movido pela urgência de trazer jovens periféricos, especialmente jovens negros, mulheres e LGBTQIA +, ao papel de criadores de conteúdo e narradores de suas realidades, por meio do audiovisual e tecnologia digital.

Ao combater o estigma e promover o engajamento cívico, jovens exibindo rostos, cores e sons da favela no Museu do Amanhã e no Museu de Arte Contemporânea são resistência, ativismo e afronta a uma realidade de exclusão e de violência. Ainda mais durante a pandemia de Covid -19, que teve como um dos impactos indiretos o aumento da violência contra favelas e periferias.

Em abril de 2020, ocorreram 27,9% mais operações policiais e 57,9% mais homicídios cometidos pela polícia em comparação com o mesmo período de 2019, segundo levantamento da Conectas. Em junho, o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar proibindo operações policiais em favelas durante a pandemia. Sem poder se acolher fisicamente para resistir, estar online nunca foi tão importante.

Com medidas de distanciamento social e quarentena, o uso de redes sociais tornou-se central para os jovens. Protestos, campanhas de doação, conscientização da Covid-19 e apoio comunitário aconteceram na internet. E dessa potência do celular na palma da mão de jovens é que compreendemos a favela enquanto um LAB, um laboratório de incidência política e social.

Aprendendo com a atuação do PerifaConnection e potencializado pelo apoio da Secretaria de Juventude do Rio, do Consulado da Alemanha e da Fundação Ford, criamos um espaço propício para a troca e o diálogo entre jovens, poder público e sociedade.

Em um momento no qual cerca de 20% da população de 15 a 29 anos, na cidade do Rio, não estuda nem trabalha, é importante criar caminhos. Ao contribuir para trazer jovens periféricos ao papel de criadores de conteúdo e narradores de suas realidades, produtores de obras audiovisuais que desafiem a narrativa sobre o que é ser um jovem de favela, não apenas combatemos estereótipos, estigmas e preconceitos, mas também qualificamos e geramos oportunidades de inserção no mercado de trabalho.

A economia criativa, enquanto área efervescente do setor cultural, possibilita o jovem a acessar um mercado que, em termos de PIB, movimenta cerca de R$ 24,8 bilhões só no Rio.

Aumentar o engajamento cívico e social dos jovens em suas comunidades e democratizar o debate sobre sustentabilidade e desenvolvimento centrados nos valores da Agenda 2030 é investir no futuro que queremos para a nossa cidade, Estado e país e no papel que nós teremos nele.

Quando a favela se vê na tela, contando suas dores e alegrias, pelos olhos e mãos da sua juventude, só reforça que a arte é uma das ferramentas mais poderosas para promover e fortalecer a democracia e os direitos humanos nas favelas.

Daniel Calarco
Idealizador do Favela.LAB e presidente do OIJ

Thayná Ivo
Idealizadora do Favela.LAB e diretora da Groselha Produções

Salvino Oliveira
É morador da Cidade de Deus, integrante do PerifaConnection, gestor público e o atual Secretário de Juventude do Rio de Janeiro

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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