Às 9h desta sexta-feira (22), uma equipe formada por diversas instituições públicas e lideranças comunitárias se encontravam na entrada da Grota, um dos acessos ao Complexo do Alemão. O objetivo era, após a terceira chacina do governo Cláudio Castro no Rio, ocorrida no dia de ontem (21) na comunidade, ouvir e entender quais as violências sofridas pelos moradores do Alemão, que tiveram suas casas invadidas e parentes assassinados por agentes militares. A caminhada pelo Complexo do Alemão durou cerca de quatro horas.
Entre alguns dos presentes, estavam a Comissão de Direitos Humanos da Alerj; a Comissão de Direitos Humanos da OAB; a Defensoria Pública do Rio de Janeiro; Coletivo Papo Reto; Mulheres em Ação no Complexo do Alemão; além da equipe do Voz das Comunidades.
Enquanto representantes dos órgãos públicos de defesa aos direitos humanos ouviam os moradores, os vizinhos de Solange Mendes, assassinada covardemente com um tiro na cabeça na manhã desta sexta, choravam e contavam sobre o terror que estão sofrendo há mais de 24 horas. O beco que Solange foi morta estava ocupado, na manhã de ontem, por três corpos empilhados e os próprios moradores tiveram que tirar porque estava atrapalhando a passagem.
Teste 3
Uma das vizinhas da vítima disse que, pouco antes de ouvir a troca de tiros que teria acontecido entre dois policiais confusos que acertaram Solange, um militar invadiu sua casa com o fuzil apontado para dentro. “Ele gritou com minha filha e disse que o portão da minha casa era passagem de bandido e, por isso, deveria ficar aberto. Depois, saiu entrando na minha laje”, disse uma moradora.
Sobre o episódio da chacina, um outro morador da comunidade conta que, se não tivesse saído de sua cama para ir até o corredor assim que começaram os tiros, ele estaria morto. O tiro atravessou sua parede e entrou em seu colchão. “Na hora eu só sabia pedir a Deus pra tirar a gente daqui com vida porque a gente achou que ia morrer! Eu falei pra minha esposa: ‘amor, estão tirando na nossa casa’. E foi uma sequência desesperadora. Aí, hoje, eu acordei de madrugada pra ir ao banheiro e minha esposa estava chorando. Disse que fechava o olho e escutava tiro…”, relatou.
Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, explica sobre o papel da instituição: “Viemos fazer um trabalho de escuta coletiva do que aconteceu durante a chacina do Alemão ontem. Tudo isso está sendo documentado para virar um relatório de informações para ajudar a resguardar os direitos dos moradores do Complexo do Alemão. Agora, todas as instituições (Conselho Estadual de Direitos Humanos, Ouvidoria da Defensoria Pública junto ao NUDED, OAB e Comissão de Direitos Humanos da Alerj) vão trabalhar juntas, cada um cumprindo seu papel, para defender os direitos do morador e garantir toda a assistência psicossocial também”.
Pimentel explica ainda que “o relatório vai ser o embasamento de informações de qualquer atitude da Defensoria, isso tudo vai ser estudado pelos defensores especializados. Mas, ele é a base de tudo, onde constam dados, provas e contatos”.
Mariana Rodrigues, procuradora da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conta sobre a atuação da Ordem: “Viemos pra conversar com os moradores, entender o que aconteceu, ver o saldo do genocídio que ocorreu ontem aqui. Além de ver e entrar nas casas, conversar com os moradores e ouvir o comércio. Isso porque a OAB tem uma função muito estratégica com a Defensoria Pública, ou seja, de complementariedade”.
Alguns dos exemplos das funções da OAB em conjunto com a Defensoria são: orientações juridicas, encaminhamentos, nas demandas oficias e de instituições como o IML, secretarias das polícias militar e civil.