Conheça Felipe Combo, diretor por trás dos clipes de artistas como Chefin e Major RD

Morador do Vidigal, o diretor já trabalhou com nomes como Chefin e já fotografou dez faixas do último álbum do Major RD
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Já parou para pensar em quem criou os clipes do seu artista favorito? Afinal, quem está por trás dos vídeos que acumulam vários views (visualizações) no Youtube? Felipe Combo foi um desses caras. Na verdade, tem sido, porque – licença poética – foguete não dá ré! Morador do Morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio, Luiz Felipe Souza de Aguiar, de 29 anos, soma cerca de seis anos no mundo do audiovisual e já assinou clipes, como “212” e “Deus é o Meu Guia”, do Chefin, além da direção de fotografia das dez faixas do último álbum do Major RD, “Troféu”. Só nessa brincadeira já são mais de 126 milhões de visualizações no Youtube, mas o portfólio é bem mais extenso. Diretor, fotógrafo, editor e provável que mais, Combo é “multimacetado”, como dizem seus amigos. 

Ele fez questão de salientar que nasceu durante a partida do Flamengo contra o Botafogo, em que o time rubro negro foi pentacampeão no Brasileirão de 1992. Nesse ano, sua mãe, a potiguar Maria Nadeji, morava no Morro do Cajueiro, mais especificamente na Rua Fausto Laurindo, em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro; o primeiro lar de Felipe, que ainda não era o Combo. Passou por Costa Barros, Faz-Quem-Quer, Méier, Tabajaras, Vidigal e Juramento, de onde saiu há 5 meses para voltar a morar no Vidigal. Dessa vez, com seu amigo de infância e cria do FQQ, Lucas Almeida, que também é seu parceiro na arte do audiovisual, além de cantar bem a beça. É, de fato, a Casa dos Artistas, como está na rede Wi-Fi da dupla. 

Talvez o processo de Luiz Felipe para Felipe Combo tenha iniciado quando ele tinha 8 anos, no momento em que sua irmã mais velha, Maria Andréa, comprou uma filmadora para registrar toda a sua gravidez. “Ela sempre foi criativa pra tudo e hoje faz teatro. A minha veia de arte vem muito dela e, assim que ela comprou, eu já comecei a filmar tudo. Às vezes, filmando nada, mas tava lá eu filmando”, relembra. “Em tudo que eu fiz, sempre fui levando a fotografia e a filmagem comigo. Nesse rolé de música, sempre pensei em fazer clipe, registrar as paradas. Aí, sempre fui fazendo. Fazia videozinho pra banda, mas levando muito mais como hobby do que como profissão”, comentou, acrescentando que ganhava dinheiro mesmo trabalhando com telemarketing, como office boy, fazendo camisa, etc.

 Felipe Combo em sua ilha de edição, vestindo seu manto sagrado
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Teste 3

Seu primeiro estágio na área, antes mesmo de entrar na faculdade, foi na Agência Métrica. Acho que cabe falar da dona Maria Nadeji aqui novamente. Ela dizia assim a ele: “Em casa você não vai aprender nada, vai pra rua”, quando Felipe dizia que não iria sair numa sexta-feira à noite por algum motivo que poderia ser grana ou preguiça. E foi em um desses rolés de rock, incentivados por sua mãe desde sempre, que ele conheceu Thiago Calviño, então sócio dessa agência, em que Felipe pôde trabalhar até com a Anitta, na fase do Show das Poderosas. Mesmo após Calviño abrir sua própria produtora, Felipe Combo participou de alguns projetos como editor de grandes clipes, como: “Melim – Ouvi Dizer”, “PK e Ludmilla – Do Jeito Que Tu Gosta”, “Mumuzinho – Oração”, entre outros.

A tal faculdade citada no parágrafo anterior era o curso de Publicidade e Propaganda na Unigranrio, onde ele tinha bolsa de 100%, que, com a correria do trabalho, acabou perdendo. Depois, conseguiu outra bolsa para cursar Jornalismo. Isso porque ele sempre amou futebol e comunicação (percebemos). Chegou a estagiar no Balanço Esportivo, na CNT, e também no Esporte Interativo, canal que ficou por quase dois anos. Lá, mesmo como estagiário, trabalhava tanto que perdeu a bolsa novamente por não conseguir o rendimento necessário. Sem faculdade, o contrato de estágio acaba, ou seja, perdeu também o estágio. “Pensei: o que eu vou fazer da minha vida agora?”, conta. 

O cria da ZN, que não é bobo nem nada, nunca abandonou os corres do audiovisual nesse meio tempo e aprendeu muito com Calviño. Inclusive, foi numa dessas que conheceu o cara que ele tem como referência e amigo pessoal: Riccardo Melchiades, diretor de fotografia e cria do PPG (Pavão-Pavãozinho-Cantagalo). “Ele mudou muito a minha visão. Nesse meio tem muito playboy e eu não tinha muita paciência pra certos projetos, mas quem perdia no final era eu”, disse. 

Ao tocar nesse ponto, foi perguntado a ele sobre os maiores obstáculos de estar numa indústria que é dominada por playboy branco. “É o que o Sant fala: quem tem o acesso, monopoliza. Querendo ou não, tu tem a visão que os caras nunca vão ter. Você que é cria de favela, sabe como é. Mas, tu não tem os meios. Então, o cara que tem a câmera, é o dono da bola”, respondeu, de forma direta.

E prosseguiu pontuando que, hoje, ele parte de uma base que tem que ter uma qualidade de trabalho muito alta. “Eu ainda dependo muito dos outros e esse é o maior desafio. Se eu tenho R$ 30 mil pra investir hoje, não vou depender de ninguém”, comenta, ressaltando que muitas outras questões se misturam. Como, por exemplo, o fato do audiovisual ter muito conteúdo em inglês e nem todo mundo ter acesso a outro idioma. “E aí, só vai filtrando”, conclui, se referindo a quem compõe majoritariamente a indústria audiovisual.

Sobre satisfação pessoal e futuro, Felipe fala sobre seu projeto, o Blues das Ruas, em que se expressa através de fotografias. “É como eu vejo as coisas. Às vezes, é só a foto. Às vezes, é a legenda também, que na maioria das vezes é alguma letra de rap”, explica. Linkando o fato de muitos conhecerem seu trabalho, mas só citarem os artistas que aparecem na frente das câmeras, com seu lado jornalista, Felipe também quis voltar com seu vlog para ir além. “O que eu penso para o futuro é nego conhecer o que eu faço, quem eu sou, de onde eu venho e conseguir ir pra fora do país, fazer cinema, mas sem sair da música”, finaliza.

Felipe durante a gravação do clipe do MC Rodson, que ainda não foi lançado
Foto: Vinícius Flores

As próximas produções que serão lançadas na pista com direção de Felipe Combo é uma aposta dele com a Bubblegun Studios. Dom Smoking, Elchyco e Lukão ZN são três artistas do Juramento que, antes do clipe “Tropa do Jura”, não somavam 15 ouvintes no Spotify, conta. “Lançamos o primeiro clipe deles agora e cada um tá com uns 200 ouvintes”, falou, comemorando o progresso. A moral de cria aí! (Falando nisso, vai ter clipe do MC Rodson também, hein!)

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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