Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
A cada detalhe destacado nos tons de maquiagens e nas combinações de peças de roupas que encaixem com as tendências da estação, a transformação em drag queen de Cleiton Henrique, de 25 anos, vira um ato de resistência no Complexo do Alemão. Enquanto desfila de salto por cima dos preconceitos e pensamentos machistas, o morador da rua Canitar apresenta para a comunidade e para o Rio de Janeiro sua personalidade artística: Alice. E, através do trabalho realizado, encontra nessa cultura maneiras de se expressar e, ao mesmo tempo, defender os direitos LGBTQIA+ nas apresentações em eventos e no cotidiano.
“Pra mim, a cultura Drag Queen é muito mais do que se vestir-se com roupas e características femininas e apresentações em shows e eventos. Atualmente, eu vejo a minha transformação como uma forma de resistência, de sobrevivência e de empoderamento, sabe? Eu sou um menino gay, então, pra mim, não é só mais arte. Eu vou me montar até não conseguir mais caminhar (risos)”, explica.
Teste 3
Atuando há oito anos no cenário cultural como Alice, a drag queen revela que a proximidade com o mundo feminino ajudou no processo de criação da sua personalidade artística. De acordo com a artista, desde cedo o olhar cuidadoso e vaidoso com seu corpo faz parte da sua rotina.
“Eu sempre dei muita atenção ao meu lado feminino. Cuidava do meu cabelo e experimentava as maquiagens da minha mãe. Nesse processo de autocuidado, descobri que adorava me ‘montar’, mas não era algo que fazia profissionalmente. Então, um dia, eu conheci uma pessoa no meu trabalho e ela me mostrou que tinha vencido a categoria de Miss Drag Queen em um concurso. Na hora, eu falei pra ele: isso é tudo que sonhei pra mim!”, explica.
Para “dar a vida” a sua personagem, Henrique conta com essas virtudes atenciosas no processo, pois é um trabalho que exige muita dedicação e calma. “É como se fosse uma fórmula matemática”, brinca. Os pilares da cultura drag celebram a diversidade e aceitação das pessoas no meio artístico, o que facilita o desenvolvimento de todos. Com isso, a entrega de corpo e alma de Henrique deu novos horizontes para Alice, como o título de Madrinha da Parada Gay de Búzios e apresentações para mais de 100 mil pessoas nos últimos Carnavais.
Apelidada como a Pabllo do Jaca (após participar de uma festa à fantasia na comunidade do Jacarezinho), por sua semelhança física com a artista Pabllo Vittar, Alice conta com o apoio incondicional de amigos e conhecidos, como Tamires Rodrigues, que confecciona as suas roupas, e Ana Maria, que acompanha o seu passo a passo e disponibiliza a laje da sua casa para ensaios de apresentações. “Eu tenho amizades maravilhosas que me apoiam sempre! Essa laje, por exemplo, é um espaço muito especial pra mim. A Ana Maria, que eu chamo mais de Loura, é uma base muito importante pra mim. Aqui, na laje, eu danço, canto, me divirto e sou eu mesmo”, define.
Fã de todas coreografias e apresentações da Beyoncé, Alice acrescenta que os shows nos palcos funcionam como um teletransporte para outro lugar. “Quando me apresento, é um momento único. Eu viajo para dentro dos clipes de artistas que admiro, como Beyoncé, e me vejo ao lado deles. É aquilo né: quem gosta, se joga!”