Complexo do Alemão tem um baleado a cada 5 dias somente este ano

A onda de violência no Alemão atinge moradores, policiais, comerciantes e o turismo, que está em queda no Complexo

Alemão – Mesmo com um dos cartões postais do Rio de Janeiro ainda em funcionamento, o teleférico do Alemão, não dá para contabilizar a queda de turistas que o conjunto de favelas deixou de receber este ano. O fator principal para a diminuição das visitas  turísticas é noticiada diariamente nos principais veículos de comunicação do Brasil: A VIOLÊNCIA!
Foram cerca de 32 pessoas atingidas somente este ano em algumas favelas do Alemão. É somar a cada 5 dias uma pessoa atingida por um tiro, vindo a falecer ou não. No ano passado, os dados contabilizaram exatamente 63 atingidos entre policiais, bandidos e moradores. Dados que bateram o recorde de atingidos, levando em consideração o ano de 2014, um dos mais violentos e com muitas mortes.

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Policiais do Bope em patrulhamento na comunidade da Alvorada, uma das mais afetadas pela violência Foto: Betinho Casas Novas

Dados alarmantes levantados pela Organização Voz das Comunidades apontam uma queda de 65% do movimento dos comércios, por conta da violência na região. Lojas, bares, mercados e até mesmo bancos, fecharam as portas e resolveram não mais atuar no conjunto de favelas.
Em abril de 2014, uma agência do banco Itaú, que havido sido instalado há poucos dias, na época, na Av. Itaoca, comunidade da Nova Brasília, teve que mudar de endereço após um incêndio criminoso na agência. Tratava-se de um protesto realizado na avenida, após a morte de dois moradores no interior da comunidade. Logo em seguida, a agência decidiu fechar as portas definitivamente. A famosa academia do banco Santander, localizada na Estrada do Itararé, também teve mudar de endereço devido ao grande índice de violência no Alemão.

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Estação da Palmeiras, lugar onde era realizado feiras livres Foto: Betinho Casas Novas

Quem costumava ir a estação Palmeiras do teleférico todo fim de semana para curtir a feira livre que tinha por lá, hoje sente falta. A tradicional feira criada e realizada pelos moradores da área, fechou, por falta de turistas, que antigamente geravam renda comprando artesanato produzidos por moradores, pastéis, churrasco e cervejas. Hoje, são poucos os artistas locais que ainda resistem no local com a venda dos seus produtos. Não precisamos ir muito longe para poder observar milhares de placas de “vende-se” ou “Passo ponto” em lojas, bares, comércios e casas no Alemão.

O medo cada vez mais presente

Teste 3

Conversamos com uma moradora da comunidade do Areal, “Y”, que preferiu não se identificar, ela contou para nossa equipe o drama de morar em uma das regiões mais violentas do Complexo do Alemão.

Y “Estou vendendo minha casa e por um preço bem abaixo que deveria vender, me dá pena, mas melhor do que ser baleada…”

Repórter: Porque está vendendo tão baixo?

Y: “Porque quero sair logo daqui, não quero tomar um tiro…”

Repórter: Você escuta muitos tiros ai onde você mora?

Y: “Demais!! Quando começa os tiros tenho que correr com minha filha para o banheiro, é o único lugar onde tem mais de uma parede. Estou cansada desse lugar. Minha casa demorei anos para poder comprar e reforma-la. Agora tenho que vender, barato, para poder sair desse inferno. Não aguento mais!!”

Repórter: Qual é o seu maior medo?

Y: “De ser a próxima vitima!”

Repórter: Como a senhora se sente, morando com sua filha pequena, em um dos lugares mais violentos do Alemão?

Y: “Olha, meu filho, eu tenho medo. Moro no alemão há 32 anos e nunca vi ele tão violento como nesses últimos anos.  A gente sai de casa sem saber se voltaremos vivos.

“Y” ainda concluiu a matéria contando que há esperança de ver dias melhores para a comunidade onde mora por tanto tempo. Nascida em Sergipe, “Y” veio para o Alemão ainda nova, na busca de um lugar digno, calmo, que pudesse construir uma nova vida, assim como muitos imigrantes do norte do país fazem. “Creio que isso um dia terá fim. Eu espero…” concluiu.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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