Há quatro anos, Marcus Vinícius da Silva teve sua vida interrompida pelo Estado que tem como política o extermínio da população negra e favelada. Um menino de apenas 14 anos que estava indo para a escola foi alvejado nas costas pela polícia, no Complexo do Maré, Zona Norte do Rio. Marcos Vinícius não pôde chegar à sua maioridade, que seria neste ano, e seu caso ainda corre na Justiça.
Dia 20 de junho de 2018, em uma incursão policial que se pode chamar de “operação-vingança”, agentes militares adentraram o Complexo do Maré após a morte de um inspetor na Favela do Acari, também na Zona Norte. Nesse dia, Marcus estava uniformizado indo para a escola junto a um amigo, quando se deparou com um blindado e decidiu seguir na direção contrária. Foi quando o adolescente levou o tiro que interrompeu sua vida e desestruturou a família Silva.
A sentença da Justiça, que saiu apenas em dezembro do ano passado, indenizou os pais, Bruna e José, em R$ 100 mil cada e seus dois avós em R$ 35 mil cada. Mas, não foi estendida à irmã do adolescente, que o tinha, além de um irmão mais velho, como seu parceiro e referência de vida. O recurso está em andamento e ainda será analisado pelo Tribunal de Justiça, que passará para o Superior Tribunal de Justiça.
Teste 3
A nível de comparação, uma pesquisa do LabJaca (Laboratório de dados e narrativas sobre favelas e periferias) mostrou que os custos direcionados às chacinas planejadas pela polícia são de muitos milhões de reais.
De acordo com a pesquisa, um único fuzil custa, no mínimo, R$ 5 mil. Também na pesquisa, a gente fica sabendo que um helicóptero é R$ 22 milhões e seu seguro é de R$ 3,3 milhões. Para fechar, os números ainda mostram que dois mil coletes comprados na última licitação da época do vídeo custou R$ 18 milhões. É um investimento pesado para matar. Saúde, educação, cultura e saneamento básico: cadê?
Um caso que demorou três anos para soltar a sentença, demorará mais quantos para fazer, de fato, Justiça? Se é que há como.
A dor e a luta de Bruna, mãe de Marcus Vinícius
A mãe de Marcus, Bruna da Silva, desabafa que se sente desamparada e desesperada pela falta de justiça e de respostas. “Só Deus e nós sabemos o quanto é difícil conviver sem ele. Nossos corações doem e sangram todos os dias. Hoje me vejo adoecendo por culpa dessa justiça cega e falha que nunca vem”.
“A polícia não para de matar. Temos um presidente no poder que dá ordem para nos matar e ainda são condecorados por ele. Um presidente genocida com a gente e omisso com o nosso país! Que segurança pública é essa que nos mata? Quem é o bandido da história se o estado se comporta pior do que eles? Uma segurança pública que não serve para nos servir. A segurança pública do nosso país não entra na favela com saúde, saneamento básico, com melhorias… Eles só entram com tiros e violência e, no meio de tanta violência, o Estado encontra no caminho deles os nossos corpos que, para eles, são ditos matáveis”, protesta.
Sobre a sentença, ela conta que voltou para as mãos da DH o Estado recorreu a uma sentença que o juiz deu. “Nessa sentença o Estado não quer pagar a minha filha, a única irmã que Marcus tinha. Ela segue a vida sem a sua maior referência: o irmão. Eu não procuro um valor, o que eu busco é uma pensão vitalícia para a nossa família, já que o Estado matou o nosso provedor da família. Se meu filho estivesse vivo ele já estaria provendo dentro de casa porque hoje ele faria com 18 anos. Por culpa do Estado não posso mais ter o meu filho aqui comigo e com a família”, lamentou Bruna.
O advogado do caso, João Tancredo
“Eu vejo muito preconceito nesse processo, porque crime praticado por pobre é muito bem apurado. Agora, crimes praticados contra os pobres não têm apuração, não interessa, então não tem justiça. Você vê pelos valores: como é filho de pobre, o valor é pequeno. Imagina se fosse filho de rico? Seria muito maior!”, pontua o advogado.
Ele conta que a sentença não concedeu indenização de direitos morais à irmã da vítima, nem tratamento psicológico na rede privada, apenas na pública. “Recorremos para aumentar os valores e estender à ela. Os recursos devem ser julgados daqui a uns 5 meses pelo TJ e aí é apresentada para o STJ, em Brasília. Assim, provavelmente, vamos chegar ao décimo aniversário de morte do jeito que a justiça é lenta para esses casos”, reforça a negligência da Justiça com a família.