O programa Cidade Integrada chegou à favela do Jacarezinho no dia 18 de janeiro. Sendo uma nova roupagem do plano de implantação das UPPs, segundo moradores, a iniciativa do Governo do Estado iniciou a implementação com promessa de assistência social para comunidade, transparência, impulsionamento econômico, além de obras de infraestrutura e segurança.
Com um mês da implantação do programa, a favela do Jacarezinho não viu melhorias. Conforme reportagem realizada pelo Voz das Comunidades em fevereiro, apenas o “Clube da Luluzinha” havia sido implantado até aquele momento. Durante o processo de “instalação” do programa, moradores realizaram uma manifestação após um homem ser baleado. A manifestação foi registrada pelo Voz das Comunidades, em transmissão ao vivo.
Após três meses, o Cidade Integrada ainda está em operação na comunidade do Jacarezinho. Contudo, ainda não se observa melhorias sociais. Entretanto, segurança parece ser apenas a prioridade no momento. Tanto que é que, recentemente, a PM abriu licitação para adquirir um sistema de monitoramento para a região. O projeto prevê a instalação de 22 câmeras com detecção facial, detecção de placas, capacidade de contagem de pessoas no entorno da favela do Jacarezinho e estimula custar R$ 164 mil reais mensais.
Teste 3
A previsão é que as câmeras funcionem no mínimo três meses após a instalação do sistema. Se o preço médio for aplicado, o gasto estimado seria de R$ 493 mil.
Na visão de Monica Cunha, educadora e técnica em educação social, fundadora do Movimento Moleque e ex-Coordenadora da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da ALERJ em 2019, o projeto do Cidade Integrada, sendo uma repaginação do modelo de implementação das UPPs, comporta-se do mesmo modo que o projeto implementado em 2007, não apresentando melhoras significativas para a comunidade. “Sempre mandam só a ação de repressão e mais nada. Isso torna essas ações totalmente corriqueiras. O nível de agressão para com os moradores é absurda”.
Monica retrata que os relatos de moradores que recebe são semelhantes e descrevem as ações policiais dentro do Jacarezinho. “Eles estarem roubando as coisas de dentro de casa e ocupando a casa dos moradores como se fosse deles, é muito abuso. Para o sistema é uma continuidade de como eram retratas as senzalas existentes das fazendas na época da escravização. Então, é assim que é visto fazendo, é assim que é visto a favela. Então é por isso que o sistema se acha no direito de cometer todas essas atrocidades”.
Com relação ao plano de instalação de câmeras na comunidade do Jacarezinho, a suplente é objetiva. “Isso significa mais jovens pretos presos. Nós somos o terceiro país que mais prende no mundo. No Brasil, preto é a maioria no sistema prisional. Por que ele (o Estado) quer colocar câmera? Pra poder prender como já se prende. Então agora ele vai colocar câmera pra poder ter certeza de quem está saindo e quem está entrando”.
Projetos sociais na comunidade
Quem mora na comunidade, diz que quantia a ser investida no plano de câmeras para o Jacarezinho poderia ser aplicada em projetos já existentes no território.
É possível destacar, por exemplo, o trabalho do LabJaca, um laboratório de dados e narrativas oriundo do Jacarezinho. Formando por onze jovens de dentro da comunidade, o LabJaca ajuda a construir a história da favela, abordando o cotidiano social, narrativas e problemas enfrentados pela população da região.
A ONG Viva Jacarezinho também é um exemplo. Buscando melhorar a vida dos moradores da comunidade, a ONG promove ações socioculturais, descontos de cursos e melhorias de infraestrutura pública para a população da localidade.
O Nucleo Independente e Comunitário de Aprendizagem (NICA) também se apresenta como uma iniciativa de promoção da educação dentro da favela do Jacarezinho. Voltado para pessoas de baixa renda, o Nica utiliza o conhecimento como forte ferramenta para mudar a realidade de pessoas dentro da comunidade.