Pandemia de Covid-19 vai deixar marcas na educação de crianças e jovens de favela

Grande parte dos estudantes da rede pública de ensino não conseguiram acessar conteúdos escolares online por falta de internet
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

A pandemia gerou consequências que ainda vão perdurar por bastante tempo. Os impactos na formação dos estudantes, por exemplo, já são evidentes. Esse grupo enfrentou desafios no processo de aprendizagem enquanto as aulas estavam suspensas, e, com o retorno do ensino presencial, não está sendo diferente.  

Vania do Amaral, moradora do Alemão, mãe de um casal de estudantes da rede pública, comentou que os filhos sempre tiraram notas boas. Mas, por causa da pandemia, o cenário mudou radicalmente. “Nesse retorno das aulas presenciais, eles tomaram um susto, porque vieram aquelas matérias complicadas que eles não tiveram nenhum tipo de explicação”. Agora, ela teme pelo o que virá pela frente: “Eu sei que ano que vem vai ser complicado porque eles vão fazer o primeiro ano do Ensino Médio sem terem estudado nem a metade do que precisariam para chegar até lá”, desabafou. 

A internet foi um dos maiores desafios para estudantes da rede pública durante a suspensão das aulas
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Com relação a esse contexto, a professora de cursinhos comunitários Bárbara Rachel explicou que, historicamente, a população negra e de baixa renda não tem acesso à educação e tecnologia. “Quais pessoas tiveram acesso à internet durante esse período ou a um aparelho para que conseguissem prestar atenção ao que estava sendo dito pelo professor? Muitos dos meus alunos usaram o celular porque não tinham computador em casa. Isso nos mostra como o governo enxerga a favela como um lugar descartável”. Considerando essa situação, Vania não é a única mãe que se preocupa com o futuro dos filhos. Jéssica, mãe de uma jovem de 14 anos, também está aflita quanto ao ano que vem. “Ela ainda vai ter dificuldade por ter perdido muita matéria. Vai ser um desafio imenso”. 

Teste 3

As mulheres ainda citaram uma outra questão que prejudicou esses jovens: a falta de contato com professores. Liliana Secron dá aula de Língua Portuguesa e Literatura nas redes municipal e estadual e em entrevista afirmou que “não existe educação sem encontro”, seja ele presencial ou online. O que mais a angustiou no início da pandemia foi essa ausência de interação com os estudantes. “Como eu ia educar para ninguém? Eu tinha turmas de 30, 40 alunos e dois respondiam”, se referindo à adesão dos alunos às atividades online. Logo, o retorno das aulas presenciais representou para ela um enorme alívio, mas ainda assim os impactos causados pela pandemia na educação permanecem. “Não existe forma de repor o conteúdo. É aprender daqui para a frente”.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que “sempre esteve atenta à oferta de recursos para que o processo de aprendizagem dos estudantes da rede não fosse interrompido”. O órgão, que listou os recursos oferecidos durante as aulas, citou entre eles o aplicativo Rioeduca, criado com o objetivo de reunir em um só lugar os conteúdos escolares. No entanto, questionadas sobre a funcionalidade do app, Jessica disse que a sua filha não conseguia utilizar e Vania falou que para entrar no Google Sala de Aula pelo Rioeduca era preciso internet, o que dificultava a acessibilidade.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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