“A minha filha estava dormindo na cama quando foi baleada”, diz mãe de mulher deficiente baleada no Alemão

Vanessa Cabral Martins de Oliveira, de 28 anos, foi atingida enquanto dormia na manhã da última terça-feira
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Nas últimas 24 horas, dona Sônia tem convivido com a sensação de angústia e na base de cartelas de medicamentos controlados para manter-se de pé, como mesmo define. Religiosa e frequentadora da igreja, ela agarrou-se em sua fé desde que sua filha, Vanessa Cabral Martins de Oliveira, de 28 anos e PCD (Pessoas Com Deficiência), foi baleada na manhã de ontem durante uma ação policial na Grota, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Apegada à filha, com quem divide o mesmo quarto e também a paixão pelo clube Vasco da Gama, Sônia conta que o projétil da arma de fogo atravessou a janela da cozinha, a geladeira, a parede do dormitório e, em seguida, atingiu o abdômen de Vanessa, que chamou a mãe por causa das dores fortes.

“A minha filha estava dormindo na cama quando foi baleada. Ela me chamou reclamando de uma dor muito forte, mas que não sabia o que era. Quando fui ver, ela estava sangrando muito. O sangue ficou pela cama, pelo chão e pelas roupas que ela usava”, revela.

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades
Mãe e filhas dividem o mesmo quarto na residência. Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades.


Socorrida pelos familiares no primeiro momento, Vanessa foi carregada pelos familiares até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão, mas, logo em seguida, os profissionais de saúde a transferiram para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, onde passou por três operações cirúrgicas na região que recebeu o disparo.

“Ela dizia que estava com muita dor. Aí perguntamos se ela conseguia caminhar. Ela disse que sim. Para ela não entender a gravidade da situação, fomos brincando com ela até lá, contando 1, 2, 3 enquanto ela caminhava. Em um momento, ela perguntou se iríamos na igreja, que ela gosta muito de ir, mas disse que iríamos para lá depois”, comenta Sônia.

De acordo com as informações do Hospital Estadual Getúlio Vargas, a situação de Vanessa é estável após três intervenções médicas.

Foto: Acervo Pessoal
Vanessa estava dormindo quando foi atingida pelo disparo de arma de fogo. Foto: Acervo Pessoal/Divulgação.


Em nota, a PMERJ informou que, na manhã de ontem, policiais militares da UPP Alemão que prestavam apoio a equipe em serviço de manutenção para restabelecimento de energia elétrica, próximo à base AfroReggae, foram atacados por disparos de armas de fogo. Houve confronto.

Após estabilizado o terreno, a ocorrência foi registrada na 22ªDP. Posteriormente, os policiais militares da UPP Alemão foram acionados ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, para verificar a chegada de uma vítima de disparo de arma de fogo, que deu entrada na unidade de saúde após ser ferida no interior de sua residência, na localidade da Grota. A ocorrência também foi comunicada à 22ªDP.

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades
Apreensiva e à base de remédio, Dona Sônia relembra as últimas 24h longe de sua filha. Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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