Sabor da favela: Chef de cozinha da Maré é indicada a prêmio internacional de gastronomia

Coordenadora do Projeto Maré de Sabores, Mariana Aleixo enxerga a favela como potência gastronômica

Foto: Reprodução

Nascida e criada na comunidade do Complexo da Maré, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, a chef de cozinha Mariana Aleixo, de 33 anos, coordenadora do projeto Maré de Sabores, está na lista da 50 Next (iniciativa do importantíssimo World’s 50 Best), que elege jovens (até 35 anos) que estão moldando o futuro da gastronomia.

Há 11 anos, o Maré de Sabores surgiu a partir da demanda apresentada pelo trabalho realizado pelo Redes da Maré com mulheres das 16 comunidades do Complexo. A iniciativa realiza um trabalho fundamental que valoriza a gastronomia como um fazer artístico. Coordenadora do projeto, Mariana Aleixo representa melhor do que ninguém todo o empenho que o projeto vem fazendo no decorrer destes anos, possibilitando esta indicação ao prêmio. 

Início do sonho

Teste 3

De família nordestina, os pratos tradicionais da região influenciaram Mariana a ingressar na gastronomia. A ida para a faculdade de gastronomia ampliou os horizontes. “Na faculdade de gastronomia, fui entendendo esse meu anseio de saber mais sobre alimentação, numa escala para além dos estereótipos estabelecidos de acessos a esses alimentos”, comentou a chef. Ainda cursando a faculdade, Mariana aos 19 anos foi trabalhar no Copacabana Palace, num restaurante italiano do hotel, onde enxergou as barreiras sociais existentes no que se refere às comidas.

Mariana ajudou a organizar um banco de alimentos e a entrega de 65 000 refeições para populações em situação de rua no complexo da Maré.
Foto: Reprodução / Redes da Maré

“Quem constrói, quem está na prática do trabalho da gastronomia no espaço dos restaurantes são os moradores de favela. E os cargos que eles ocupam, existem exceções de outros cargos, acabam tendo salários desproporcionais em comparação a pessoas que tiveram acesso à universidade e experiências internacionais, que podem qualificar e ampliar esse currículo. Além disso, existe uma questão de gênero. Onde estão as mulheres neste setor de gastronomia?”, ressaltou Mariana. 

Representatividade da Maré

A profissional ainda fala sobre enxergar a favela como potência cultural, gastronômica e econômica, e que isso sendo fortalecido permite romper estas barreiras sociais, e de gênero. Além disso, cita o Maré de Sabores como alternativa de construir um mercado de gastronomia chefiado por mulheres.

Nasceu, em 2016, a Casa das Mulheres, voltada à equidade de gênero, com acolhimento psicológico, jurídico e formação profissional.
Foto: Reprodução / Redes da Maré

“A indicação a este prêmio mostra como esse olhar para nossas experiências, soluções, projetos, que são produzidos pelo Maré de Sabores, tem de ser da favela, de pensar nas questões locais, acabam tendo esse reconhecimento de fora. Que a gente olhe mais para estes territórios, e que a gente se inspire e produza referências para estas pessoas do Brasil, que tem muito mais similaridade com a nossa realidade, do que um restaurante caríssimo, de alta gastronomia que existe nos bairros nobre da cidade”, afirmou ela.

O outro integrante brasileiro da lista é Thiago Vinícius de Paula da Silva, 32 anos, que atua com a democratização do acesso a alimentos orgânicos no Campo Limpo, em São Paulo. A organização planeja uma cerimônia presencial em Bilbao, no País Basco, na Espanha, para celebrar as listas de 2021 e 2022, quando for possível, mediante a situação da pandemia da Covid-19, prevista para 2022. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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