Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades
Carlos Alberto Rodrigues, conhecido como CL, de 20 anos, e João Pedro dos Santos, de 19 anos, o Preguinho, são os barbeiros que formam a barbearia Fábrica de Régua. Mesmo com a pouca idade, a dupla já é sucesso na favela. No Complexo do Alemão, como outras tantas comunidades da cidade do Rio de Janeiro, a profissão de barbeiro é uma das mais praticadas. Em diversas situações é a única fonte de renda para muitos moradores e a chance de estar ativo no mercado de trabalho. A jornada dos dois amigos teve um longo percurso até eles se cruzarem.
Carlos começou a cortar cabelo em 2014. Após se interessar pela profissão, caiu de cabeça na ideia de ser barbeiro numa época em que começou a fazer muito sucesso o famoso corte do jaca. “Minha mãe naquele tempo não queria né, porque falou que eu iria largar os estudos, que aquilo não era o melhor futuro”. Contudo, Carlos não desistiu. Pouco tempo depois, a família e amigos o ajudaram a continuar cortando.
Teste 3
Até chegar ao ponto de ter o seu próprio salão, Carlos passou por diversas localidades do Alemão, como Fazendinha, Loteamento, e até mesmo outras comunidades, como Jacaré e Mangueira. “Foi uma experiência difícil, porém, muito boa, porque tive a oportunidade de conhecer pessoas e ir sendo conhecido também”.
Já João Pedro também começou ainda adolescente a cortar, após fazer um curso de barbeiro no Senac. Neste meio tempo, os dois estudaram juntos no Ensino Médio, as histórias se cruzaram, e tudo começou. Em 2018, quando saiu de sua antiga barbearia na rua Antônio Austregésilo, CL deixou o lugar com Preguinho. “Ele me falou que estava saindo e pedi a ele para assumir o ponto. No primeiro mês achei que não ia ter dinheiro nem pra pagar o aluguel, cheguei a pedir ajuda para o meu pai, só que ao chegar no final do mês vi que tinha feito muito mais do que o aluguel, peguei confiança e segui em frente”, explica João Pedro.
Início da parceria
No segundo semestre de 2019, Carlos já estava se estabilizando no local onde é a sua barbearia quando João Pedro pediu para começarem a trabalhar juntos. “Eu pedia pra ele praticamente todo dia pra vir pra cá, porque eu queria muito trabalhar com ele”, conta João. Até que no final daquele mesmo ano os dois se juntaram.
No início, a juventude da dupla ‘assustava’ um poucos os clientes que chegavam para cortar, mas eles superaram isso no dia a dia com os resultados do trabalho. “Eles (clientes) chegavam para cortar e estranhavam. Dois moleques novos tomando conta de um salão, todo direitinho e tal, mas foram vendo nosso trabalho e deixaram isso de lado”, relata a dupla.
Pandemia
A chegada da pandemia acabou fazendo os dois tirarem o pé do acelerador. Carlos ficou internado após contrair a Covid-19. Os dois contaram que no salão, assim como muitos outros estabelecimentos da região, o movimento caiu bastante. Ainda que com todo o receio de serem contaminados no local de trabalho, em nenhum momento pensaram em parar. “Até hoje não é mais a mesma coisa que antes, mesmo o salão funcionando todo dia o pessoal ainda tem um pé atrás com essa pandemia”.
Amizade
O sucesso da Fábrica de Régua se dá muito pela amizade dos dois jovens barbeiros. A parceria do cotidiano reflete muito no bom trabalho. “Trabalhei com outros caras aqui no meu salão, mas não foi a mesma coisa, não tinha esse entendimento”, destaca Carlos. “Não parece que eu trabalho pra ele, porque é isso, mas nossa amizade é tão boa que um vai ajudando o outro e o salão só vai evoluindo junto”, diz João Pedro. Uma das metas da dupla é abrir as portas para outros que estão começando na profissão terem a primeira oportunidade.
Para o decorrer deste ano de 2021 os amigos planejam continuar se especializando ainda mais com cursos e também investir no salão. Quer ficar na régua máxima? Basta chegar junto na FDR, que fica na rua Guadalajara, 129, de terça a sábado, a partir das 8h.