Make in Favela: a marca que vende maquiagens, investe em emoções e responsabilidade social

Com apenas R$ 100,00 a criadora do Make in Favela fez seu primeiro investimento e colhe os frutos até hoje

Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

A cada dia que passa as blogueiras ganham mais força e geram mais influência sobre seus fãs. Os variados itens divulgados pelas famosas das redes sociais acabam se tornando desejo dos seguidores. Pensando nisso, Rafaela França, de 38 anos, criou o Make in Favela, especializado em venda de produtos de maquiagens que estão em alta e são aprovados pelas blogueiras. 

Rafaela França conta que a ideia surgiu em 2015, num momento de dificuldade. A empreendedora que já trabalhou na gerência de diversos estabelecimentos, foi vítima da tuberculose e ficou cerca de um ano sem receber salário e desamparada pelo INSS. Devido a situação, Rafaela precisava de uma nova fonte de renda e decidiu fazer uma pesquisa de mercado com moradoras do Complexo do Alemão, onde mora. Com o resultado, ela descobriu o que as mulheres não deixavam de comprar mesmo com pouco dinheiro: maquiagem. E, com apenas R$ 100,00 a criadora do Make in Favela fez seu primeiro investimento e colhe os frutos até hoje.  

Teste 3

“Antes de fazer a pesquisa de mercado eu sempre gostei de maquiagem, mas o meu contato era o de produtos mais caros. Como eu era gerente de farmácia, trabalhava com dermocosméticos. Eu ia para muitos treinamentos de marcas importadas, mas no momento de dificuldade eu pensei em procurar coisas acessíveis e levar para dentro da realidade da favela, aqui [Alemão] é o meu lugar e eu sei que tem necessidades”, conta Rafaela.

Para entrar no mercado e não dá espaço a concorrência, o Make in Favela se especializou em emoções. Os buquês personalizados fazem sucesso, principalmente com as crianças. Outra característica marcante do negócio é que entrega grátis em horários inusitados em becos e vielas das favelas. Além de uma barraca em meio a feira de frutas e verduras na Nova Holanda, no Complexo da Maré, onde as clientes esperam ansiosamente pelo “Baratex”, promoção com diversos produtos por até 10 reais. Mas, Rafaela conta que o principal diferencial do Make in Favela é a responsabilidade social.

Barraca do Make in Favela na Nova Holanda. Foto: acervo pessoal

Além de cosméticos: responsabilidade social

“A gente não é só dinheiro e eu me orgulho muito disso”, afirma Rafaela ao explicar sobre a importância da responsabilidade social na sua vida. Além das vendas ela se dedica em oferecer cursos de maquiagem por um preço acessível. “Dentro da favela um curso de maquiagem custa entre 200 a 250 reais. A gente consegue oferecer por uma taxa de 30 reais, que é para manutenção dos materiais, porque pode fazer o curso quem tem o material todo e quem não tem nada”, explica.

O curso disponibilizado na Associação de Moradores da Nova Holanda e na sede do Educap, no Complexo do Alemão, já formou mais de 300 meninas. No entanto, as aulas foram interrompidas por conta da pandemia, mas Rafaela já tem planos para o projeto. “Vamos esperar a pandemia passar para voltar. O último curso teve mais de 25 pessoas, gente da Nova Holanda, Kelson, Lins, Ilha, de todos os lugares. Mas estamos com planos de ampliar, oferecer aulas semanais. Ganhamos um espaço que a gente vai começar a fazer vaquinha para transformar em um estúdio social Make in Favela. Eu prefiro voltar quando tiver a vacina, mas a gente já está juntando mercadoria para ano que vem”, conta.

Rafaela França com alunas do curso de automaquiagem em 2019. Foto: acervo pessoal

Mas, essa responsabilidade social vai além de levar o Make in Favela para a Maré, Alemão, Manguinhos, Jacaré, Chapadão, Lixão, Vila Ideal, Santa Marta, Vidigal, Rocinha e demais comunidades da cidade. Rafaela é voluntária do Educap, ajuda a fazer enxoval social para grávidas, atua auxiliando as demandas do Cras, percorre o Complexo do Alemão averiguando as demandas das localidades ajudando crianças e adultos e já castrou gatos abandonados dos becos da Alvorada.

Um sonho para benefício de todas

Mesmo com o desafio diário em ajudar crianças, profissionalizar mulheres e manter o empreendimento para sustento da família, Rafaela não deixa as causas sociais de lado e sonha com melhorias para seus projetos. E empreendedora conta que tem a força como referência para não deixar as jovens desistirem de um futuro melhor. De acordo com ela, diversas alunas sofrem violência doméstica, algumas não têm renda e com o curso conseguem mudar sua história.

“Meu maior sonho não para o Make in Favela em si ou para as minhas vendas, mas sim para o curso. Depois que a gente tem uma doença, a gente aprende a desacelerar. Nós não temos acepção de pessoas, recebemos trans, meninas que vem do sistema presidiário. Eu vejo uma necessidade ali, então o meu maior sonho seria que uma empresa grande investisse nas maquiagens pra gente poder ampliar o projeto com as meninas”, diz Rafaela França.

“Eu amo minha Alvorada”, diz Rafaela França que exibe os produtos mais vendidos do Make in Favela. Foto: Renato Moura / Voz das Comunidades

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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