Família mantém tradição do Zé do Salgadinho, um patrimônio do Alemão

Quem nunca viu na Fazendinha, Canitá, Alvorada e Nova Brasília um senhorzinho de uniforme e chapéu branco vendendo seus salgadinhos?
Créditos: Selma Souza

Patrimônio histórico do Complexo do Alemão, o seu Zé andava por todo o Complexo de porta em porta oferecendo seus deliciosos salgados. Mas já tem um tempo que os moradores andam sentindo falta dessa simpatia de pessoa. Afinal, por onde anda o seu Zé do Salgadinho? O Voz das Comunidades foi atrás dele.

Seu Zé chegou no Complexo em 1959 e até hoje sua família vende salgados. Créditos: Selma Souza

Quem nunca passou pelas lojas, salões e mercados da Fazendinha, Canitá, Alvorada e Nova Brasília, localidades do Complexo do Alemão, e esbarrou com um senhorzinho de uniforme e chapéu branco oferecendo seus salgadinhos? Esse é o seu Zé, muito conhecido dentro da favela, e que faz parte da história do Complexo.

Morador do Alemão desde 1959, próximo de completar 85 anos no dia 26 de novembro, viúvo há seis anos, pai de três filhos e com muitos netos e bisnetos, Seu Zé traz a memória dos momentos felizes que passou vendendo seus salgados.

Seu Zé ao lado dos seus dois filhos e do neto. Créditos: Selma Souza

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“Comecei assim que fiquei desempregado, minha filha fazia os salgadinhos, e eu ia de porta em porta vender. Saía tudo rápido, ia em cada canto desse Alemão vendendo meus salgadinho”, com muita alegria o seu Zé.

Por conta da idade, seu Zé já apresenta sinais de uma saúde debilitada, o que deixa seus filhos bastante preocupados. Por conta disso que os filhos acham prudente o pai não sair mais para vender salgados.

“Ele levou um tombo na Nova Brasília, não dava mais para sustentar essa situação. Ele não anda direito e está com problemas de esquecimento. A alegria dele é vender os salgados de porta em porta, ele sente falta, amava conversar com as pessoas na rua. Meu pai é muito querido e eu tenho muito orgulho dele”, conta a filha Marcia.

A filha disse que está cuidando do pai e depende do SUS para fazer exames, o que demora demais. E essa demora causa aflição nos familiares, que precisam de ajuda para cuidar da saúde do seu Zé, e também tem desanimado muito.

Segundo Marcia, o pai está longe das ruas tem um ano. E para não perder a renda, ela continua vendendo os salgados na porta de sua casa. Mesmo com o seu Zé parado, a família toda está fazendo salgados mas com a pandemia sentiram um baque nas vendas. Mesmo assim, a família continua mantendo viva a tradição com a filha vendendo salgados na porta de casa e o filho vendendo frutas e verduras no o famoso Sacolão do Orlando.

“Meu pai é o amor da minha vida, meu querido, me dói muito ver ele assim, pois ele amava isso. Ele é meio teimoso, pois ele quer ir para rua, mas com a pandemia e o estado de saúde dele, eu não deixo”.

Marcia, filha do seu Zé que faz os salgados. Créditos: Selma Souza

Para quem quiser matar a saudade dos salgadinhos do Seu Zé é só ir na rua Antônio Austregésilo, 416, no sacolão do Orlando, ou ligar para a Marcia no número 96702 0041.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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