Centro Cultural Phábrika forma moradores de favelas em produtores de cultura

Família aposta na arte como forma de transformação social em favelas do Rio e constrói o Centro Cultural Phábrika

O Centro Cultural Phábrika (CCPHBK) está localizado na Fazenda Botafogo, Zona Norte do Rio de Janeiros, e tem o objetivo de provar que é possível oferecer, com qualidade, cultura e arte à população da favela. A instituição contribui com a formação cidadã e com a introdução de novos atores periféricos na cadeia produtiva da cultura e da economia criativa. A Phábrika atende moradores de comunidades como Complexo de Acari, Complexo da Pedreira, Lagartixa, Chapadão, Jorge Turco entre outras. Ele é administrado por uma família que acredita no poder transformador da cultura e da arte.

Quem conta a história da Phábrika, que se mistura com a sua própria, é Samantha Joshua, 18 anos, além de administrar o espaço com outros membros de sua família, ela também dá aulas no CCPHBK . “Sou de Coelho Neto, subúrbio do Rio de Janeiro. Desde criança tenho muito contato com teatro, música e dança. Com 4 anos de idade já coloquei na cabeça que seria atriz de musical. Aos 9 anos entrei pra Escola de Música Baden Powell, onde estudei canto, violino, teclado, violão e teoria musical. Já passei por algumas escolas de dança desde criança, mas, hoje estou finalmente bem próxima de tirar meu DRT de atriz-bailarina.

O desejo de ser artista

“Estou no último ano do Curso Técnico em Dança na ETE Adolpho Bloch. Além disso, também estudo a técnica inglesa de ballet da Royal Academy of Dance no Studio GK Dance. Desde pequena sonhava rodar o mundo em turnê (Risos) e pra isso eu sabia que precisava saber inglês. Como meus pai não estavam em condições de me matricular em um curso de idiomas, aos 10 anos eu comecei a estudar a língua inglesa sozinha, utilizando a música para me ajudar. Aos 14 anos ganhei um intercâmbio para a Inglaterra, onde consegui minha certificação de Cambridge”.

Teste 3

A família de Samantha sempre esteve envolvida no mundo da arte e isso contribuiu para sua formação e para o nascimento do centro cultural. “Minha mãe ensina teatro para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Eu cresci assistindo aos espetáculos que ela dirigia. Por essa razão, reforcei, cada vez mais, a minha crença no poder transformador da arte. Em 2016, minha família ocupou um prédio público na Fazenda Botafogo. O lugar havia sido abandonado e se encontrava em estado de degradação. Sem nenhum apoio financeiro e, com ajuda de alguns jovens locais, revitalizamos o espaço. No intuito de transformá-lo em um lugar de fácil acesso à arte e à cultura, que pudesse impactar o desenvolvimento social da região”.

Instituição familiar

A família Joshua percebeu que estavam no lugar certo, levando em consideração a falta de espaços culturais na localidade em suas redondezas. “O Centro Cultural Phábrika se localiza em uma das regiões com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade do Rio. Além disso, na região, não há nenhum outro equipamento do gênero, os mais próximos dali ficam a um raio de 5 KM de distância. Hoje a instituição prova que é possível oferecer, com qualidade, cultura e arte à população. Contribuindo para a formação cidadã e a introdução de novos atores periféricos na cadeia produtiva da cultura e da economia criativa”.

Samantha também destaca o clima e a relação entre as pessoas que colaboram com o CCPHBK. “Na Phábrika, utilizamos o termo “phamília” para nos referirmos à nossa rede de voluntários, já que inicialmente o trabalho era realizado apenas por minha família. Minha mãe comandava as oficinas de teatro, minha irmã Katherine Andreas as de ballet, minha outra irmã Siouxsie Anne as de skate e meu irmão Samuel Joshua as de basquete. Além dos eventos culturais produzidos por meu pai e minha irmã Stephanie”.

“Andreas. Já eu, ensino inglês para crianças e adolescentes, da mesma forma que utilizei para aprender o idioma, através da música. Atualmente, o Centro Cultural Phábrika não se resume apenas em um espaço familiar, já se trata de um potente equipamento cultural, reconhecido como Ponto de Cultura pela Rede de Cultura Viva”.

A Covid-19

A pandemia de Covid-19 fez com que a instituição expandisse ainda mais sua área de atuação. “Com a chegada do coronavírus, veio a interrupção das nossas ações socioculturais. Logo em seguida, surgiu o convite para entrar na União Rio, através do movimento #RioContraCorona. Participamos da campanha de distribuição de cestas de alimentos e kits de produtos de higiene pessoal e limpeza, liderado pelos Institutos Ekloos, Phi e Banco da Providência”.

“Embora não fosse nossa área de atuação, nós compreendemos o papel que uma instituição como a Phábrika, que atende moradores de comunidades como as do Complexo de Acari, Complexo da Pedreira, Lagartixa, Chapadão, Jorge Turco entre outras, tinha em um momento delicado como este. A situação financeira das famílias da favela vem se agravando. Desde o primeiro mês de isolamento social, já atendemos milhares de famílias com as doações da campanha”.

Informação é transformação

Samantha finaliza falando sobre a importância da informação e da conscientização, principalmente do combate ao novo coronvírus. “Acho importante destacar que a informação é uma das principais ferramentas para conter o avanço da pandemia. Também para minimizar os impactos que ela provoca em todos, principalmente nos moradores de comunidades e favelas de todo o país”.

“Nesses locais, há carência de condições dignas de vida e as pessoas ficam vulneráveis à desinformação. Tendo isso em mente, nós idealizamos algumas ações de conscientização sobre os perigos de não respeitar as medidas de prevenção da Covid-19. Distribuímos máscaras de proteção e álcool em gel. Além de deixar faixas de ráfia, grafite, stencil e lambes em locais estratégicos da região com frases de apelo, como ‘Seu rolé de hoje pode custar sua vida amanhã’”.

O Centro Cultural Phábrika é um exemplo e a forma materializada da famosa música interpretada pela banda Titãs. A gente não quer só comida / A gente quer comida / Diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída / Para qualquer parte. A cultura e arte fazem toda diferença na formação dos cidadãos. É importante conhecer e apoiar essas instituições.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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