Cria do Morro dos Prazeres, Janice Delfim, 37 anos, se mobilizou diante da necessidade das crianças da comunidade que estão sem aula devido à pandemia do novo coronavírus. Elas precisam estudar de alguma forma, mas nem todas têm acesso à internet. Com isso, ela começou a imprimir as apostilas da Secretaria Municipal de Educação (SME) para ajudar as crianças da redondeza. A atitude resultou na iniciativa solidária Educação na Quarentena.
O Educação na Quarentena também nasceu do medo e da preocupação de Janice Delfim. Medo do avanço do novo coronavírus na favela pois, apesar do decreto de distanciamento, moradores vivem naturalmente em aglomeração devido à geografia local. Assim como a preocupação com as crianças da comunidade, onde muitas vivem em vulnerabilidade, sem acesso à internet, materiais de estudo, e sem entender a real gravidade da pandemia, do vírus novos e da doença que ele causa, a Covid-19.
A moradora dos Prazeres também é Agente de Cidadania Firjan e já atuava nas favelas. Durante a pandemia Janice ficou em casa, mas continuou buscando soluções para os problemas da comunidade. “Toda hora na minha porta as crianças chamavam meu sobrinho para brincar e eu falava não. E aí a cada criança que chamava ele, eu perguntava se estava estudando, se eles estavam entendendo o que era coronavírus. Até que cai em si, por já trabalhar a anos na favela em especial com as crianças e sabendo da necessidade, que muitas dessas crianças os pais não tem acesso ao link das apostilas”.
Teste 3
Diante dessa situação, Janice teve a iniciativa de imprimir as primeiras apostilas para as crianças. Inicialmente, a perspectiva era de atender em torno de 13 a 15 crianças, pois ela não tinha impressora e nem condições de arcar com mais custos. Mas, na primeira semana ajudou em torno de 30 crianças e não parou por aí. Mais moradores procuravam Janice em busca da apostila. Hoje o trabalho atende semanalmente a 307 crianças da comunidade. O projeto conta com doações e ajuda de 15 voluntários envolvidos.
As distribuições são realizadas às segunda-feiras, na associação de moradores ou na quadra da comunidade, seguindo as medidas de prevenção contra Covid-19, como o uso de máscara, álcool em gel, e os horários são divididos pelo ano letivo das crianças, para evitar aglomerações. Além da apostila da prefeitura, as crianças recebem um kit lanche e atividades, como jogos tabuleiro, passatempo, sete erros, entre outros.
Os jogos ajudam as crianças a manter o hábito da leitura e foi uma solução do projeto quando Janice se deparou com a situação de dificuldade das crianças de entender a apostila da prefeitura sem ajuda de um professor. “As crianças não estão tendo explicações, e as matérias vêm semanalmente, tem matéria nova, explicação nova, e eles não estão acompanhando. Então, hoje a gente busca mais jogos, porque o objetivo do Educação na Quarentena é acolher as crianças e fazer com que elas continuem tendo o hábito da leitura, da escrita e memorização. Nisso a gente trabalha com pesquisa, coquetel infantil com diversos jogos que a gente distribui quando a gente recebe doações. Já tem relatos dos pais falando que o filho melhorou muito a leitura e a matemática através dos jogos. A gente está vendo um resultado bacana”, conta Janice.
Há cinco meses, o Educação na Quarentena vem ganhando forças e crescendo, ajudando as crianças a ter acesso a educação. Os preparativos para continuar com o projeto após o fim da pandemia e retorno das aulas já fazem parte dos planos de Janice e dos voluntários. “Uma coisa que a gente fala direto: não vamos parar com o Educação na Quarentena. Vamos pedir para famílias, continuar pedindo aos amigos, a quem puder ajudar e jogar nas redes sociais. Enquanto as aulas não voltarem, não vamos parar e quando as aulas voltarem a gente vai poder ter presencial. Então já estamos conversando com psicopedagogo, professores e com quem puder somar para termos uma grande escola de reforço na comunidade”.
Acreditar na educação é o que motiva Janice e os voluntários do Educação na Quarentena. “Acreditamos que a educação salva e transforma vidas. Sabemos que não vamos mudar mundo, mas podemos mudar nossa realidade e a realidade de nossos vizinhos através do conhecimento que a educação traz e da viagem boa que a leitura nos permite. Por isso, diariamente estamos em busca de manter o Educação na Quarentena no Morro dos Prazeres. Que pessoas de outras comunidade, que já nos convidam para falar sobre o projeto, tenham o desejo de realizar mais trabalhos como esse”.