Sabedoria ancestral e sustentabilidade. Esses são conceitos que guiam a loja Kurandé, sediada na Grota, Complexo do Alemão, e que completou um ano de existência neste mês de julho. A ideia do negócio surgiu pelos companheiros Claudio, de 25 anos, nascido e criado na periferia de São Paulo e morador do Alemão há oito anos, e Felipe, cria do Engenheiro Pedreira, em Japeri, de 22 anos. A dupla se conheceu na Universidade Federal do Rio de Janeiro há dois anos, onde Claudio é estudante de História da Arte e Felipe faz Ciências Biológicas. As primeiras conversas entre eles foram sobre jovens que vinham de periferias e favelas e como isso causa impacto na vida universitária. Pensaram, então, em criar um negócio para complementar a renda e pagar os custos com deslocamento e materiais de estudos.
A primeira tentativa empreendedora foi um delivery de lanches e refeições, que teve fim por falta de dinheiro. Foi então que, no meio de uma conversa, Felipe contou que a sua bisavó, dona Juraci, era curandeira e parteira e sempre usou muitas ervas para fazer chás, xaropes e garrafadas. Além disso, comentou que sua mãe, Sandra, sempre desejou ter uma linha de cosméticos para atender as suas clientes no salão em que trabalhava há mais de 20 anos, em Japeri. Foi então que Claudio lembrou que sua avó, dona Vitorina, fazia sabão com óleo de cozinha reutilizado.
Criação no Alemão
Foi na cozinha da própria casa que a dupla abriu a Kurandé. Felipe ficou responsável pela parde das combinações e reações químicas dos produtos, misturando toda a vivência e resgatando saberes ancestrais para a produção. Claudio ficou na parte da divulgação e pesquisa sobre ervas que também eram utilizadas para fins terapêuticos e estéticos nos cultos de matriz africana.
Teste 3
“Fazer um trabalho artesanal dentro do Complexo do Alemão é incrível. Primeiro porque a gente rompe com diversos preconceitos em relação ao que vem da favela, ao potencial de criação e de articulação dos moradores. Segundo porque a gente observa que as práticas de produções artesanais, em muitos ramos, sempre aconteceram nas favelas, periferias e regiões não centralizadas. O que a gente está fazendo não é novo, mas é um resgate das práticas de muitos dos nossos mais velhos. Na casa de Candomblé em que eu sou iniciado, que fica no Mangueiral, a gente escuta várias histórias de muitas benzedeiras, curandeiras e rezadeiras que moraram na região. A história dessas pessoas foi invisibilizada“, diz Claudio.
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Expansão da Kurandé
A empresa vai dar passos maiores em setembro: a primeira loja física será aberta no Complexo do Alemão, junto com um espaço para a promoção de práticas de autocuidado. Claudio afirma que a intenção é aumentar a conversa sustentável no ambiente se favela.
“Falta muito debater a sustentabilidade. As organizações e pessoas que fazem isso acabam não tendo a mesma visibilidade de quem quer falar somente da violência territorial e institucional. Parece que sustentabilidade é algo muito distante e caro para a favela. Mas têm várias ideias e ações que são muito incríveis nesse sentido“, finaliza o jovem empreendedor.
A loja está presente no Instagram: https://instagram.com/kurandecosmeticos