A pandemia causada pelo novo coronavírus pegou todo mundo de surpresa. Quem poderia imaginar que em 2020 um vírus mudaria tanto a vida e o comportamento das pessoas, e principalmente, a vida econômica da maioria dos brasileiros. Foi o que aconteceu com o empreendedor Luiz Felipe de 30 anos, morador da Vila Kennedy na Zona Oeste do Rio, que precisou pausar as atividades da sua empresa de animação de festas e criar um novo negócio para se reinventar no mercado.
Há 7 anos Felipe criou a BagunçArt, empresa especializada em animação de festas e eventos, com mais de 60 colaboradores, que realizava em média 250 festas por mês e um faturamento mensal de 30 mil em média . “Todos os meus colaboradores eram jovens moradores da VK. Sempre tive o foco em apoiar e empregar jovens daqui.” conta Felipe.
Em março deste ano, o governo decretou o isolamento social. Ou seja, foi proibido aglomerações. Desta maneira, o ramo de festas e eventos foram um dos primeiros a serem afetados. Felipe conta que no primeiro mês da quarentena ele teve mais de 100 festas adiadas, o que já comprometeria o seu mês e, consequentemente, não haveria o pagamento de todas as contas da empresa, incluindo o pagamento dos colaboradores. “Inicialmente eu abaixei o valor, cobrando só o custo pra que pelo menos os meus colaboradores pudessem continuar trabalhando, mas aí vieram os decretos e com eles a certeza de que era hora de parar.”
Teste 3
Com a empresa parada, o jovem empreendedor, que é pai de duas crianças, conseguiu um emprego de porteiro em uma obra na Zona Sul. “Muitos disseram que era uma queda de vida, mas eu não nasci ‘bem de vida’ e, com muita humildade, eu fiquei muito feliz com a oportunidade de, pelo menos, poder colocar comida na mesa dos meus filhos. Mas pouco tempo depois o meu lado empreendedor começou a ‘gritar’ que eu deveria tentar algo novo. Eu tinha um pouco de dinheiro guardado e, em uma madrugada nesse trabalho, eu pensei em montar uma hamburgueria artesanal delivery, onde o foco seria sabor, qualidade e um preço justo para a comunidade. Peguei o meu dinheiro, o cartão do meu primo emprestado pra ter um pequeno estoque, e comecei”, contou ele.
Em poucos dias nasceu a Hamburghetto (@hamburghetto), nome escolhido por representar a comunidade. Gueto significa bairro de uma cidade onde vivem os membros de uma etnia ou outro grupo minoritário, devido a determinações, pressões ou circunstâncias econômicas ou sociais, isto é, a favela. A hamburgueria criada por Felipe e os amigos, Fabrício e Daniel, em um mês já movimentou 18 mil reais, vendendo mais de 2 mil lanches. E já estão atendendo aos bairros vizinhos a Vila Kennedy, como a Carobinha e o Complexo de Senador Camará. “Nosso objetivo é estruturar o negócio, montar uma loja física e, se Deus quiser, abrir filiais em outras comunidades.”
O novo empreendimento conta com 6 funcionários e todos fizeram parte da empresa anterior. Porém, ele esclarece que a BagunçArt não acabou. “Toda a equipe está pronta para voltar. Já temos alguns clientes nos contactando para festas futuras, só que vamos demorar um tempo para que tudo se encaixe novamente.” Felipe é uma inspiração para quem acha que está tudo perdido e que não é possível recomeçar. Ele completa: “gostaria que a minha história chegasse em mais pessoas com a intenção de motivá-las a nunca desistir. Essa é a lei da minha favela. Nunca desistir!”